quinta-feira, 24 de dezembro de 2009



24/12/2009 e 25/12/2009 | N° 16196
PAULO SANT’ANA


Cinquenta anos de perucas

Uma vez escrevi que a vida era a arte do passatempo. Sob certo aspecto, o passatempo é uma forma de driblar a paciência.

Chego agora à conclusão de que a vida é a arte da paciência. A paciência de esperar o elevador, por exemplo, pode existir algo mais cruciante? Talvez só a paciência do desempregado para esperar emprego.

A paciência infinita que se tem de ter, outro exemplo, para esperar no engarrafamento. E a inveja que se tem, com aqueles carros todos parados, da fila do lado, que anda enquanto a fila em que se está emperra...

Não existe paciência mais resignada do que a da fila do engarrafamento. Porque é a paciência de quem não tem outra coisa a fazer, a não ser esperar que desengarrafe o trânsito.

O pior do engarrafamento é que, quando se chegar ao fim da fila, vai se entrar noutra rua ou avenida onde nos esperará outro engarrafamento.

E a ausência de alternativa é massacrante. Não dá para ir pelos ares, não dá para se enfiar no fundo da terra, não adianta querer deixar de dirigir e optar pelo transporte coletivo ou seletivo, estão ali ao lado da gente os táxis e as lotações também engarrafados.

A solução seria mudar-se de cidade. Mas como fugir da vida que se leva aqui, o trabalho e a família estão aqui, o engarrafamento é o destino desesperado, sem solução?

Esses dias, ouvi um empresário executivo dizer que a maior parte do seu tempo de trabalho é ocupada escrevendo ou lendo no computador, enquanto está se deslocando pelo trânsito de São Paulo como passageiro de táxi.

Vejam que chegou ao ponto de as pessoas passarem a maior parte do tempo dentro dos táxis.

Exatamente como esses pobres e infelizes empregados humildes que levam tanto tempo sendo transportados pelos ônibus quanto o tempo que levam trabalhando: quatro horas para ir ao trabalho, mais quatro horas para voltar do trabalho, um tempo inútil, um vazio, a vida se desenrolando lá fora e a pessoa vendo-a consumir-se nas filas dos engarrafamentos.

É preciso ter paciência. Devia haver cursos para se adquirir paciência. Esperar pela sorte, esperar pelo transporte, esperar pela consulta, depois esperar pela cirurgia, esperar que a vida mude, esperar pelo fim de semana, esperar na vida pela morte.

Haja paciência para esperar por tudo.

Ora, se me lembro, faz mais de 50 anos que eu era guri ali na esquina da Barão do Triunfo com a 20 de Setembro, entre todos nós adolescentes agitados que não sabíamos que éramos pobres e não tínhamos tempo para sermos infelizes, sobressaía o Joel Silveira.

Eu ia chamar agora o Dilamar Machado para que ele recordasse comigo o Joel Silveira ali da esquina da Barão. Mas o Dilamar também morreu, como o Joel. Talvez eu chame o Francisco Teles, o Chiquinho há de lembrar melhor.

E o Joel casou-se com a Jurema e fundaram um salão de beleza. E a semente daquele salão virou a empresa Perucas Jurema.

Vamos deixar que o filho do Joel fale:

“Prezado Paulo Sant’Ana. É com imensa alegria que a Perucas Jurema, após 50 anos de atividades, realiza o desejo de patrocinar a sua prestigiada coluna.

A partir da próxima quinta-feira, dia 24/12 (esta edição), estaremos no rodapé da página mais lida do veículo de informação mais importante do sul do país.

Nossa história, tu bem sabes como começou, pois estavas próximo da pessoa que a idealizou.

Meu pai. Teu amigo e companheiro de juventude Joel Silveira, que, se vivo estivesse, estaria muito feliz e orgulhoso.

Desejo a ti e a tua família muita saúde e felicidades, um bom Natal e um grande 2010.
(As.) Emílio Silveira (emiliosilveira@terra.com.br).

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