sábado, 12 de dezembro de 2009



13 de dezembro de 2009 | N° 16184
PAULO SANT’ANA


Cão regra-três

Foi impressionante o número de e-mails que recebi pela coluna escrita na última quarta-feira, quando me referi à morte da minha cadelinha poodle, de nome Pink.

Centenas de e-mails bateram aqui na caixa, todos se solidarizando comigo e grande parte das pessoas dizendo ter chorado enquanto lia aquela coluna.

Muitos dos remetentes relataram sua experiência com morte de cachorros que possuíam, o que os fazia calcular a minha dor.

E uma das últimas mensagens, achei-a muito curiosa: uma mulher me disse que dois cães seus já morreram e ela agora está escaldada. Quando um cão de sua propriedade está ficando velho, ela adquire um outro, jovem, antes que o velho morra, para quando sobrevir a morte do velho o golpe emocional perder um pouco do seu efeito negativo.

É uma boa ideia.

Mas eu queria agradecer a todos os que se comoveram com a história da minha cadelinha.

As palavras que me enviaram serviram-me de grande consolo.

A enfermeira Tânia Regina da Silva, com 43 anos, residente em Curitiba, nunca mais vai esquecer o domingo passado, quando estava dentro de um ônibus com a mãe, depois de passar pela casa de sua irmã.

Viajavam num banco do coletivo. Mal sabia ela que uma hora antes tinha terminado o jogo Coritiba x Fluminense, a 20 quilômetros de onde ela se encontrava, e tinha havido tumultos graves no gramado quando a partida findou.

Algumas pessoas apedrejaram o ônibus. Ela viu que eram torcedores de futebol. As pedras passavam pelas janelas e caíam junto dos passageiros.

De repente, uma bomba caseira enviada da rua veio cair no seu colo e escorregou para o chão, debaixo do banco onde se encontrava sua mãe.

A bomba espalhava um fogo azul, e a enfermeira Tânia resolveu pegá-la para jogá-la para fora do ônibus, mas não deu tempo, a bomba explodiu em sua mão esquerda.

Ela teve decepados três dedos, o polegar, o indicador e o médio, além de sofrer um ferimento no nariz, que terá de passar por cirurgia plástica.

Tânia criou sozinha dois filhos, de 18 e 24 anos: “Estou muito chorona, pois agora é que ia começar a viver. Muitos sonhos meus foram desfeitos com a explosão dessa bomba”.

Ela nem sabe se vai poder continuar a trabalhar como enfermeira num hospital e atendendo particularmente a pacientes.

As feras humanas que atacaram a polícia no estádio ainda se espalharam por toda a Capital e uma delas atingiu a enfermeira Tânia, agora sem três dedos importantes e com a vida comprometida.

Tudo em nome só de um valor: a violência gratuita. O que faz um jovem levar uma bomba caseira para o estádio ou para o entorno dele e depois do jogo atirar uma bomba caseira para dentro de um ônibus com visível sanha destruidora?

Até onde vai a maldade humana?

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