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sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Luzes de Natal
SÃO PAULO - A cidade está bastante iluminada desde o início do mês. Há luzes de vários tipos, decorações para todos os gostos, mas, pelo menos nos bairros mais afortunados, onde mora a classe média rica, as calçadas estão tomadas pelas luzinhas brancas que envolvem os troncos das árvores. São lampadinhas "made in China", que já há muitos anos enfeitam nosso Natal.
Elas inundam as ruas, que à noite parecem apaziguadas e acolhedoras, nos lançando numa atmosfera de irrealidade. Mas a palavra que não me sai da cabeça é "trégua".
A cidade iluminada refletiria um desejo de suspender alguma guerra disseminada e sem fim. Uma ideia meio besta então me ocorre: e se deixássemos a cidade assim o ano inteiro? Sim, foi só um devaneio...
A sensação de trégua, na verdade, mal consegue se sustentar ao longo do mês. Conforme passam os dias, o encantamento vai se misturando ao que há de mecânico e opressivo nos preparativos natalinos. Não é apenas a gincana de caça aos presentes, não são apenas as maratonas gastronômicas, as bebedeiras da "firma", o trânsito ou o calor infernais.
O que oprime, antes deste corre-corre frenético, é a ideia mesma de uma bondade compulsória, a esperança impositiva, o pastiche da harmonia que o Natal com suas ruas iluminadas afinal nos anuncia.
Quando chega enfim a festa, as luzinhas chinesas já não parecem estar ali para sinalizar uma trégua possível, mas, antes, para nos fazer companhia, confortando a tristeza que invariavelmente nos visita.
Tudo isso é muito subjetivo e talvez represente apenas um desvio do que deva ser o verdadeiro espírito natalino. Mas hoje, 25, veja se já não experimentamos uma certa ressaca do longo ritual em que negociamos promessas de felicidade.
Olhemos as luzinhas mais uma vez. Talvez elas nos digam apenas que a cidade não pode ser assim sempre, como nós não conseguimos ser bons o ano inteiro -nem melhores do que nós mesmos.
Um brinde à vida. E Feliz Natal!
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