segunda-feira, 28 de dezembro de 2009



28 de dezembro de 2009 | N° 16199
PAULO SANT’ANA


Outro caso com agulhas

Não cessa o sacrifício do menino M.S.A., de dois anos e sete meses apenas, na Bahia.

Ele já foi alvo de duas cirurgias, que lhe retiraram cerca de 20 agulhas do corpo.

Na segunda cirurgia, feita há dias, foram retiradas 14 agulhas dos intestinos, da bexiga e do fígado.

E ainda há mais agulhas para serem retiradas de outras partes mais delicadas de seu corpo.

Além de ser submetido a mais de 40 torturas, cada uma das agulhas infiltradas em seu corpo significava uma sessão de crueldade, agora o menino se submete a cirurgias várias para retirada das agulhas, o que leva ao raciocínio de que essa criança é pequena demais para tantas intervenções.

Não é surpresa, portanto, que, apesar de duas cirurgias bem-sucedidas, o estado de saúde do garoto ainda seja considerado grave.

Eu insisto neste assunto porque não posso ignorar o sofrimento dessa criança. Inocente, indefesa, viu cair sobre si pesadamente a mão do destino, que a submeteu a incontáveis torturas, cujas consequências persistem, apesar de ter sido libertada das mãos assassinas de seu padrasto, que durante meses a fio cravou as agulhas no corpinho da criança.

Que carnificina! Como pode um corpinho frágil suportar tantas agressões, as agulhas e agora as cirurgias?

Pensava-se que este caso fosse solitário e até se podia imaginar que fosse inédito.

Qual nada! No Maranhão, foi preso na quarta-feira passada o autônomo Francisco Coelho Campos, na localidade de São Vicente Ferrer, como principal suspeito de ter infiltrado sete agulhas no corpo de seu filhinho de apenas dois anos de idade, a mesma idade do menino baiano que foi torturado da mesma maneira.

O suspeito é adepto da magia negra, da mesma forma que se apresentou, sob certa hipótese, o caso baiano.

Além das sete perfurações e incisões das agulhas, o ritual de magia negra a que o menino foi submetido compreendeu também as fraturas de cinco costelas, um braço e uma clavícula do garoto, o que deve ter causado na criancinha dores indizíveis.

Mesmo familiares do pai da criança, agora preso sob a acusação dos crimes, admitem que ele é adepto da magia negra. Notando-se, assim, que criminosos cruentos tentam se passar por religiosos.

Mas que religião é essa que enfia agulhas no corpo de uma criança. Não satisfeita, ainda provoca fraturas em cinco costelas, no braço e na clavícula de um menininho? Que religião é essa?

Como se fosse permitido a qualquer religião submeter pessoas a suplício, quando o fulcro central de uma religião deve ser o bem, jamais a agressão a qualquer adulto, quanto mais a uma criança de dois anos.

Em ambos os casos, o da Bahia e o do Maranhão, os dois acusados são pessoas analfabetas, rudes, distantes da civilização, mas isso não os exime de culpa.

Mas não basta a ignorância sobre o ato para compreendê-los. E a maldade? Não há ignorância que possa, na mente de uma pessoa, exceder ao escrúpulo sobre a maldade. Torturar alguém é fato que não pode justificar qualquer prática satânica, isto é crime puro, sem qualquer atenuante.

São dois fatos que revelam com extrema crueza o grau de falta de educação e civilização, a mais completa, em que vegetam populações brasileiras.

Mas isso não autoriza nem de longe a alguém martirizar uma criança.

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