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domingo, 20 de dezembro de 2009
EMÍLIO ODEBRECHT
O ser humano e a natureza
TENHO ACOMPANHADO com atenção os recentes debates sobre meio ambiente. Trata-se de assunto em que nós, brasileiros, temos muito a dizer, pelo conhecimento que já acumulamos em manejo sustentável de ecossistemas. O ambientalismo será tanto mais consistente quanto mais focado estiver no ser humano. Embora esta afirmação possa soar paradoxal, ela faz todo o sentido.
Não há como analisar homem e natureza enquanto categorias estanques. Seres humanos surgiram e vivem no mundo natural, ainda que sejamos a espécie com a maior capacidade de alterá-lo. Dissociar um do outro ou, pior, tentar mostrá-los como elementos antagônicos, é um erro.
Devemos defender o meio ambiente para o homem e não apesar do ou contra o homem. Militantes e estudiosos não podem perder isso de vista.
Não concordo com a intocabilidade dos recursos naturais. Com uma população que, em breve, chegará a 200 milhões de pessoas, o Brasil precisa explorar tais recursos para garantir trabalho e renda para todos. Mas explorar de forma que gerem uma riqueza perene e se renovem para servir também a nossos filhos e netos.
É condenável qualquer doutrina que torne o homem mero instrumento de uma causa que não o serve, e a defesa do meio ambiente não pode degenerar numa espécie de fundamentalismo surdo.
Pergunto-me a que serve a sacralização da Amazônia. Esta imensa parte do nosso território precisa desenvolver-se e ter seu potencial beneficiando o país. Isto deve ser feito com os cuidados que merecem a flora e a fauna daquela região; porém, o que mais a ameaça não é o crescimento, mas sim a estagnação econômica, a qual leva os habitantes locais à devastação da mata como alternativa de sobrevivência.
Insisto: a prioridade é o bem-estar do ser humano, que precisa de energia elétrica, água tratada, alimentos saudáveis, clima agradável, ar não poluído... de uma vida decente, enfim.
O melhor para nós é que os recursos minerais, por exemplo, sejam explorados de forma racional e sustentável, em prol de todos, ao invés de permanecerem enterrados sob o solo, indefinidamente, sem gerar benefícios a ninguém.
Não podemos deixar que o ambientalismo se petrifique na forma de um discurso hostil à sociedade moderna e sirva de base para demagogias políticas.
Precisamos evoluir para a compreensão de desenvolvimento e preservação como faces da mesma moeda, contrapondo a uma postura negativa de proibição absoluta a disposição de aprender como fazer para que este desenvolvimento ocorra sem prejuízo do planeta e das gerações futuras.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.
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