domingo, 27 de dezembro de 2009


CARLOS HEITOR CONY

Homens & mulheres

RIO DE JANEIRO - Talvez seja um machismo light que tenho encruado dentro de minha formação ou desinformação: não aprecio a mudança que a igreja introduziu no cântico do "Gloria", alterando a expressão "glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade".

Afinal, o canto litúrgico em latim repete a saudação dos anjos que anunciaram a Boa-Nova aos pastores de Belém e que está até hoje no Evangelho de Lucas: "homens de boa vontade".

A mudança de certas tradições alterou a bela expressão por uma que tenta incluir as mulheres na saudação dos anjos. É um tipo de modernismo bobo, pois a expressão "Jesus salvador do homens" não exclui as mulheres. Nem a cantata de J. S. Bach, "Jesus, alegria dos homens", pode ser acusada de machista porque não cita as mulheres.

Na onda, os presidentes da República agora não se referem aos brasileiros, mas aos brasileiros e brasileiras. Os parlamentares falam em senador e senadora, deputado e deputada, vereador e vereadora, quando a função é uma só e independe de sexo.

A nobre exceção ficou por conta das poetas, que deixaram de ser poetisas e ficaram poetas mesmo, pois a função de poetar é uma só e independe do sexo para se expressar.

Tenho pavor na academia quando algum colega se refere às mulheres como confreiras ou acadêmicas. A função é masculina por uso e abuso dos povos e não significa necessariamente uma qualidade superior dos homens.

A própria igreja ainda não mudou a a expressão "Memento homo quia pulvis est" ("Lembra-te homem que és pó"). Por que somente os homens são pó e ao pó reverterão?

E o Homo sapiens é também uma forma de machismo? Ora, para ser coerente, as mulheres também tornarão ao pó e há mulheres tão sábias quanto os homens. Ou mais sábias ainda.

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