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terça-feira, 22 de dezembro de 2009
22 de dezembro de 2009 | N° 16194
PAULO SANT’ANA
Pena retributiva
Não há quem tenha assistido no Fantástico àquele homem confessando que enfiara dezenas de agulhas no corpo de um menino de dois anos de idade que não tenha pregado a pena de morte para aquele torturador.
A cena da confissão dele na televisão foi tão pateticamente comovente, que muitas pessoas com quem conversei disseram que só a morte daquele homem não bastava: ele tinha de ser torturado.
Imaginem a revolta que o fato causou.
Se fosse um adulto a vítima do torturador, já seria revoltante.
Mas, em se sabendo que o menino de dois anos era conduzido por dias, meses a fio, para as sessões cruciantes de introdução das agulhas no seu corpo, chega de conversinha fiada, só a pena de morte pode solucionar um caso desses.
E vendo aquele homem horrendo declarar que sua finalidade era matar o menino para vingar-se da mãe dele, ou seja, cada briga que tinha o torturador com sua namorada, a mãe do menino, servia de convocação do garoto para as sessões de intermináveis torturas, sente-se na televisão, sinto dizer, a vontade de cair sobre aquele monstro e esganá-lo.
Desculpem, mas a ideia que passou pela cabeça de todos diante daquela cena foi de vingança. Era todo o Brasil odiando o torturador confesso.
Como é que pode caber no cérebro doentio daquele homem tanta maldade?
Ver aquilo na televisão é um exercício de renúncia, continuar vivendo é indigno para todos nós, tal a vergonha de que somos possuídos por pertencer à mesma espécie daquele torturador (deixo de chamá-lo de assassino porque a criança não morreu).
E também ocorre a todos nós, que tomamos conhecimento daquele fato e vimos na televisão a confissão do autor pelo crime hediondo que violenta nossa consciência, que vivemos num círculo filosófico de existência que permite esse e outros tipos de atrocidade.
É muito incômodo e brutal ser humano entre humanos.
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