terça-feira, 22 de dezembro de 2009



22 de dezembro de 2009 | N° 16194
MOACYR SCLIAR


É bom acreditar

Primeiro, era Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul; depois, Secretaria da Saúde e do Meio Ambiente; e, mais adiante, surgiu uma Secretaria do Meio Ambiente autônoma.

Esta evolução mostra a importância que a questão ambiental foi ganhando no RS, no Brasil, no mundo. Ficou claro que os problemas dessa área não resultavam da imaginação dos chamados eco freaks, pessoas meio estranhas que se dedicavam à causa ambiental; tratava-se de uma ameaça muito concreta, que agora se expressa inclusive nas alterações climáticas.

A causa veio para ficar; por causa disso não creio que se possa rotular como fracasso a conferência de Copenhague.

Foi, sim, uma derrota do longo prazo diante do curto prazo, coisa até certo ponto previsível: políticos e administradores estão mais preocupados em criar de imediato empregos e elevar o nível de vida, mesmo porque, como dizia o economista Keynes, a longo prazo estaremos todos mortos.

Contudo, o recado foi dado e produzirá seus efeitos, se não sob a forma de um programa global, movido por muita grana, então sob a forma de ações individuais e coletivas. A consciência ecológica passou a fazer parte de nossas vidas e os alertas que o planeta nos envia já não passarão despercebidos. Conclusão inspirada pelo espírito natalino? Talvez. Mas é bom acreditar, como é bom confiar – mesmo que seja para confiar desconfiando.

O Celso Afonso Brum Sagastume, do Projeto Utopia (celsoabs@plugnet.psi.br), manda mensagens enviadas por jovens carentes ao Papai Noel, algumas curiosas, muitas comoventes.

Assim o Gregory, de 13 anos, pede uma bola (por razões óbvias, o presente mais solicitado pelos rapazes), com argumento convincente: “Eu mereço ganhar porque parei de incomodar os professores”. Mas acrescenta, com tocante resignação: “Se o senhor não puder, eu não vou ficar brabo, porque sei que o senhor tem que comprar muitos presentes”. É bom que o Papai Noel comece a existir.

O Newton Boa Nova, taxista de Porto Alegre, que nesta época se veste de Papai Noel e faz campanhas comunitárias (este ano: “Faça o sinal para atravessar na faixa”), agora tem um discípulo no Rio de Janeiro: semana passada, na Praia do Flamengo, tomei um táxi dirigido por um homem também vestido de Papai Noel.

Mas o Newton ganha de 10 a zero: perguntei ao motorista carioca se pretendia dirigir um trenó puxado por renas e o homem nem sabia do que eu estava falando. Ao menos neste caso, Papai Noel é indiscutivelmente gaúcho.

A eleição (por unanimidade e pela segunda vez) de Marcos Vinicios Vilaça para a presidência da Academia Brasileira de Letras é muito significativa. Vilaça lidera o movimento de renovação e de abertura da ABL, que se iniciou nos últimos anos, e que vem ganhando força como evidência da mudança que ocorre no país.

Machado de Assis, que, descendente de escravos e filho de operário, nunca esqueceu a sua origem humilde, aplaudiria de pé.

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