sábado, 26 de dezembro de 2009



26 de dezembro de 2009 | N° 16197
NILSON SOUZA


Trabalho e prazer

Quando fomos sentenciados a suar pelo pão nosso de cada dia, não estava previsto que muitos de nós nos apaixonaríamos por nossas profissões. Para quem ama o que faz, trabalhar nunca foi e nem será uma maldição.

Ao contrário, será sempre um desafio prazeroso e uma alegria renovada. É pelo trabalho que expressamos o nosso poder de construir e modificar o mundo, seja com a habilidade de nossas mãos ou com as luzes de nosso intelecto. Neste sentido, todos os ofícios são dignos e gratificantes. Nada é mais compensador do que a certeza de um trabalho bem feito.

Vale para o pedreiro, que transforma tijolos em moradias. Vale para a professora, que abre as portas do conhecimento para seus alunos. Vale para o médico, que salva vidas. E vale para o jornalista, que extrai do cotidiano sua matéria-prima para contar histórias.

Um dos maiores desses contadores, o colombiano Gabriel García Márquez, definiu o jornalismo como a melhor profissão do mundo. Descontando-se o exagero, que também faz parte do nosso ofício, o autor de Cem Anos de Solidão acerta na mosca quando diz que “ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte”.

Amo minha profissão, acima de tudo, porque ela me permite viver cada dia como se fosse único. Só para exemplificar: nas asas do meu ofício, já tive a oportunidade de desfilar na boleia de um calhambeque de cem anos pelas ruas de Paris e de percorrer os haras de Bagé numa reportagem sobre criação de cavalos;

tive a chance de cobrir duas Copas do Mundo e de acompanhar, sob o sol incandescente do litoral gaúcho, campeonatos de futebol de praia; pude testemunhar o trabalho anônimo de professores de escola pública numa comunidade carente e de compartilhar solenidades em palácios presidenciais.

Vi muito, mas, logicamente, não vi tudo. Nesta semana que está terminando, o jornalismo me ofereceu uma nova experiência – a de desempenhar durante alguns minutos o papel de Papai Noel de shopping.

“É um mico”, me advertiram alguns colegas mais céticos. Foi uma aventura muito especial. Valeu pelo que aprendi com os verdadeiros Papais Noéis (sim, eles são de verdade, amam o que fazem e devem achar que é a melhor profissão do mundo), valeu pelo que aprendi com as crianças e valeu, principalmente, pela gratificante certeza de que fiz o meu trabalho com amor e entusiasmo.

Dá para chamar de trabalho?

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