sexta-feira, 11 de dezembro de 2009



11 de dezembro de 2009 | N° 16182
DAVID COIMBRA


O sal da terra

Sei o que Jesus quis dizer com a frase: – Vós sois o sal da terra. Não falo do Jesus da religião. Em assuntos de religião não existe debate. A fé é indiscutível. Refiro-me ao Jesus filósofo e, em filosofia, tudo se discute.

O sal da terra.

Somos nós. As pessoas. Nós é que somos importantes, dizia o filósofo Jesus, o resto é secundário.

O jornalismo, por exemplo. O jornalismo tem a pretensão de abranger e abordar todas as atividades humanas contemporâneas. Divide a vida em seções, chama-as de editorias (Economia, Política, Esporte, Polícia etc.) e tenta contar o que acontece nessas áreas todos os dias.

Consegue.

Um jornal moderno é um resumo quase exato e quase preciso da vida moderna. O jornal trata de tudo, menos do mais importante. Na verdade, o jornalismo não trata de nada do que é realmente importante.

Há várias maneiras de descobrir o que é realmente importante. Duas radicais são:

1. Apaixonar-se.

2. Entrar em depressão.

Pessoas deprimidas ou apaixonadas compreendem à perfeição que o mais importante da vida não é o dinheiro, as eleições ou o jogo de domingo. Essas pessoas compreendem que o mais importante são as outras pessoas.

Mas tanto a paixão quanto a depressão são estados doentios da alma. Melhor compreender o que é realmente importante observando as pessoas mais sábias.

Que são as mães.

Cazuza cantava que só as mães são felizes. Perfeito. Mas não as festejadas mães que se orgulham de partilhar o tempo entre os filhos e a carreira profissional, as mães de suplemento feminino. Estas não são felizes. Falo das antigas mães, para quem a “carreira” não era importante.

Porque “carreira” não é importante.

Aquelas mães de pé de forno, de cheiro quente de bolo, aquelas mães de avental riam-se à sorrelfa dos homens e suas preocupações menores, como quem vai ser o próximo presidente da República.

Sabiam, aquelas mães, que, como escreveu Caetano Veloso, a coisa mais certa de todas as coisas não vale um caminho sob o sol, e que nada, nada!, do que está no jornal vale mais do que uma noite de gargalhadas com bons amigos.

Por isso, quando a política é feita com insultos, como ora ocorre no Rio Grande do Sul, quando se discutem reputações, em vez de ideias, como ora ocorre no Rio Grande do Sul, quando, enfim, as pessoas são agredidas em qualquer âmbito e por qualquer motivo, a Humanidade fica menor. Porque a política e as ideias importam, mas nem tanto. O que importa são as pessoas.

As pessoas.

O sal da terra

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