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terça-feira, 15 de dezembro de 2009
15 de dezembro de 2009 | N° 16186
CLÁUDIO MORENO
Mistérios eternos
De todos os seres vivos, o homem é o único que sabe que vai morrer. O que acontece depois é um mistério insondável, mas nosso avô das cavernas, no momento em que decidiu sepultar seus mortos, já trazia na cabeça as duas questões decisivas: “De onde viemos?
Para onde vamos?”. A humanidade carrega essas perguntas no sangue, e a busca por respostas fez surgir a ciência, as artes, a música, a religião e a filosofia.
Os gregos mantinham sobre o assunto uma humildade prudente, pois, embora fossem excelentes em tudo, sabiam, como ninguém, reconhecer a pequenez do homem diante do vasto mistério do mundo.
Quanto mais estudavam, mais se convenciam de que os limites do universo, fossem ou não infinitos, ficariam para sempre fora de nosso alcance. Falando sobre os deuses, Protágoras expressou muito bem esse sentimento: “Não sei se eles existem ou não, ou como é sua aparência, e isso por boas razões: porque eles são invisíveis, e porque a vida humana é breve demais para descobrir”.
Séculos mais tarde, o mundo científico, num acesso de onipotência aguda, proclamou que não havia nada que pudesse escapar à luz penetrante da razão. Se havia zonas obscuras, era por estarem envoltas numa névoa provisória, que o vento higiênico da ciência haveria de dissipar algum dia. Como dizia o astrônomo Kepler, no séc. 17: “O homem ainda não conhece todas as respostas”.
Esse orgulhoso (e ingênuo) “ainda não” era como um pedido de paciência – “Esperem, e tudo se esclarecerá”. No séc. 20, no entanto, um gênio como Einstein redefiniu nosso tamanho: vamos avançar cada vez mais na compreensão das leis da natureza, mas o mistério último do Universo vai persistir – inatingível, desafiador, maravilhoso. Falava como cientista; não era um homem religioso.
É curioso ver como Freud – contemporâneo de Einstein e tão genial quanto ele – esqueceu de incluir a alma feminina entre esses enigmas que nunca serão desvendados. Em carta a Marie Bonaparte, sua amiga e seguidora, o mestre confessou que, apesar de toda uma vida dedicada ao estudo do tema, ainda não era capaz de resolver a eterna questão sobre o que querem as mulheres.
“Ainda não” - como se a mulher fosse um continente desconhecido à espera do explorador capaz de mapear sua geografia. Não lhe ocorreu, decerto, que, se isso ocorresse, a humanidade estaria perdida.
Este é um mistério que está fora de nosso alcance, como a morte ou o infinito, e que deverá permanecer sem resposta para que homens e mulheres façam e refaçam incessantemente a mesma pergunta, gerando assim o desejo que nos faz viver.
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