terça-feira, 29 de dezembro de 2009


CARLOS HEITOR CONY

O novo livro

RIO DE JANEIRO - A Amazon vendeu, em todo o mundo, 9,5 milhões de kindles [no dia 14/12], dando a média de 110 aparelhinhos por segundo. A rival, a Barnes & Noble, que produz o Nook, teve problemas de distribuição e deve ter vendido um pouco menos. A soma das vendas dos livros eletrônicos, neste Natal, nos Estados Unidos, deve ter superado a venda dos impressos no mesmo período.

Surpresa? Acho que não. O mundo gira, a Lusitana roda, o Frederico trota e a informática está deixando a idade das cavernas e se apresenta ao mundo mais ou menos como a Bíblia de Gutenberg, depois da invenção dos tipos móveis que aposentaram, industrialmente falando, os manuscritos em pergaminho ou papiro em que os monges, na Antiguidade e ao longo da Idade Média, procuraram guardar e transmitir o patrimônio religioso, artístico e cultural da humanidade.

O fim do livro feito de papel e tinta é uma das perguntas mais recorrentes em todas as palestras e mesas-redondas de que participo. O mesmo ocorre com outros escritores.

Evidente que o livro impresso ainda continuará a transmitir história, ciência e meditação às novas gerações, mas o livro eletrônico fatalmente ocupará o vácuo deixado pelas editoras tradicionais. Um simples Kindle pode armazenar uma enciclopédia, a obra completa de Shakespeare ou Balzac.

Mesmo assim, o livro tal como hoje o conhecemos não morrerá de todo. Outro dia, mexendo nuns livros antigos, abri um volume de Tagore, dei com um belo poema do poeta indiano que ganhou o Nobel.

Havia uma pétala de flor marcando aquela página, uma flor vermelha que o tempo descorara, mas continuava flor. Ao ler aquele poema, eu colocara aquela pétala assinalando uma emoção que recriei com o mesmo encanto e admiração.

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