sexta-feira, 18 de dezembro de 2009



18 de dezembro de 2009 | N° 16190
PAULO SANT’ANA


Bicicletas pelos ares

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o prefeito da Cidade Maravilhosa, Eduardo Paes, em viagem à Europa, ficaram abismados quando viram como funciona lá o sistema público de aluguel de bicicletas, integrado às linhas do metrô de Paris.

Por esse sistema, o público aluga uma bicicleta num ponto e pode dispensá-la em outro lugar bem distante, bastando para isso fazer um pagamento nos postos de partida ou chegada.

E resolveram implantar o sistema no Rio de Janeiro, antes mesmo da Copa do Mundo 2014 e da Olimpíada 2016.

Em apenas quatro dias de funcionamento do sistema, das 180 bicicletas postas à disposição dos usuários, 56 foram furtadas e outro tanto de trancas foram estouradas.

Um vandalismo assustador.

Foi tornado assim inviável o sistema de bicicletário público do Rio de Janeiro em uma penada.

As trancas das bicicletas, consideradas seguras, foram arrebentadas e não se soube mais notícia dos veículos.

Em Paris, o sistema funciona há dois anos, sem furtos e sem vandalismo.

Um choque cultural. Um choque de educação. Talvez o governador do Rio de Janeiro e o prefeito carioca, bem-intencionados, tivessem se impressionado com a escolha do Rio para a Copa do Mundo e para a Olimpíada e associaram esse fato à declaração insistente do presidente Lula, associada à realidade, de que o Brasil se prepara para ser a quinta economia do mundo.

Mas é fato inquestionável na realidade brasileira que a importância econômica do Brasil como nação nada tem a ver com o Índice de Desenvolvimento Humano de nosso país, por sinal figuramos no 75º lugar entre as nações nesse índice.

Quinto lugar em desenvolvimento econômico, 75º lugar em desenvolvimento humano.

Por isso é que, dos 5,5 mil municípios brasileiros, apenas 157 possuem estabelecimentos públicos de Ensino Superior.

Diz o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas que “precisamos de um esforço enorme do ponto de vista de educação, saúde e cultura”.

Que o digam as bicicletas de aluguel do Rio de Janeiro. E que o diga o nível de vandalismo nos monumentos, nas praças, nos equipamentos de logradouros e até mesmo nos postes de iluminação de nossas cidades, patrimônio inteiramente destruído, em nível desanimador e assustador, pela população.

É sonho querer instalar bicicletário público de aluguel nas cidades brasileiras, assim como qualquer serviço correlato.

Basta dizer que deixa todo mundo estupefato o número recorde e gigantesco dos trotes nos telefones de utilidade pública.

No 190, apavorando os seus responsáveis, o número de trotes suplanta à goleada o número de telefonemas sérios e objetivos.

Não somos um povo civilizado. Pelo contrário, somos um povo dedicado à barbárie, à desordem e à destruição.

E não adianta nada a parte educada e civilizada da população tentar se afastar ideologicamente dos bárbaros. Os bárbaros são componentes do nosso povo e todos nós sofremos as consequências desse atraso que se pode chamar de milenar, se se for calcular o tempo que o Brasil levará para tornar-se uma nação civilizada e educada.

Mesmo assim, numa perversidade à realidade brasileira, o mundo nos escolhe para sermos sede da Copa e da Olimpíada.

É sem surpresa que, logo que somos escolhidos, voltamos nossos olhos para a segurança nesses eventos, chamando desde logo as Forças Armadas para protegê-los.

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