sábado, 19 de dezembro de 2009



19 de dezembro de 2009 | N° 16191
CLÁUDIA LAITANO


Um ano melhor

Dois professores da universidade americana de Yale, um de Economia e outro de Direito, decidiram estudar quais eram as principais diferenças entre os fumantes que conseguiam abandonar o cigarro de uma vez por todas e os que nunca se livravam do vício.

A conclusão foi que aqueles que estabeleciam algum tipo de “contrato”, consigo mesmo ou com um árbitro designado, tinham mais chances de cumprir suas metas.

E, se o negócio funcionava com cigarro, é provável que a mesma regra valesse para todas as resoluções difíceis de cumprir: começar o regime na segunda-feira, fazer exercícios regularmente, obedecer às resoluções de fim de ano...

Daí para inventar um jeito de ganhar dinheiro com a descoberta foi um passo, e os dois professores montaram um site (www.stickk.com) que funciona como uma espécie de tribunal da força de vontade. A pessoa escolhe a meta, estabelece uma lista de etapas, aponta um árbitro para fiscalizar o andamento do projeto e nomeia um ou vários amigos para acompanharem a empreitada.

Mas isso não é tudo. Se a vontade, a fiscalização e o apoio dos amigos não forem suficientes diante das tentações de um cigarro depois do almoço ou de uma fatia de três andares de nega maluca a punição dói não apenas no bolso, mas na consciência. Antes de começar o desafio, a pessoa escolhe uma instituição que considera particularmente odiosa – a torcida organizada do Coritiba ou a Fundação George W. Bush, por exemplo – e é pra lá que vai o valor da multa em caso de fracasso.

Maquiavélico, mas eficaz: entre os que prometem dinheiro para uma instituição que odeiam, 80% mantêm as promessas, contra 25% dos que não comprometeriam o orçamento doméstico usando a própria determinação como fiador.

Quem leva a sério esse negócio de resoluções de fim de ano costuma pensar em metas grandiosas, como parar de fumar ou começar um regime. (A última promessa íntima que eu me lembro de ter feito foi aprender a dirigir. Ainda bem que eu não prometi dinheiro nem ao Bush nem ao Coritiba.)

Mas o curioso é que boa parte das promessas em andamento no site Stickk.com não são desse tipo que a gente escreve num papelzinho no dia 31 de dezembro pensando em grandes mudanças no estilo de vida para o ano seguinte.

Os usuários do site também pedem ajuda para se aperfeiçoar nas mais banais miudezas cotidianas: ligar para a vó pelo menos uma vez por semana, passar mais tempo brincando com as crianças, dar mais atenção para as pessoas do que para os e-mails, ser mais tolerante no trabalho.

Metas como essas normalmente não são escritas, embora a maioria de nós passe boa parte do tempo, o ano inteiro, pensando em como gostaria de ser mais de um jeito do que de outro – mais calmo ou mais enérgico, mais contido ou mais espontâneo, mais aplicado ou mais desencanado.

Quantas vezes, ao longo do último ano, você não ficou lamentando uma bobagem escrita em um e-mail, um comentário dispensável, um silêncio preguiçoso na hora em que algo corajoso deveria ter sido dito?

As microrresoluções diárias nem sempre são as mais difíceis de cumprir, mas são as que mais ocupam nossa energia – ou deveriam ser, porque são nossa única chance de chegar ao próximo dezembro não apenas um ano mais velhos, mas um ano melhores.

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