segunda-feira, 14 de dezembro de 2009



14 de dezembro de 2009 | N° 16185
PAULO SANT’ANA


Agressão a Berlusconi

O que levará uma pessoa a destacar-se em meio a uma multidão para provocar um escândalo por agressão?

Desde aquele iraquiano que atirou seus sapatos no presidente George W. Bush que me intrigam essas agressões a políticos nas solenidades e comícios.

É o mesmo impulso que levou o terrorista turco a atingir com um tiro o papa João Paulo II em plena praça de São Pedro.

Ontem, o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, foi agredido por um popular preso pela polícia.

Pelas fotos do rosto de Berlusconi, transfigurado e sangrento, foi uma séria agressão, não se entendendo como, num evento político em que houve várias manifestações hostis ao mandatário, com parte do público chamando Berlusconi de palhaço e exigindo aos brados sua renúncia, tenha se descuidado a segurança pessoal do premier e permitido a agressão.

Na maioria das vezes, essas agressões a vultos cercados de celebridade se dão por uma doença mental caracterizada por pessoas que se cansam e se irritam com seu próprio anonimato, e num lance só conseguem chamar a atenção de todos para seu ato de agressividade.

Conforma-se também em enlace um ciúme doentio da popularidade do agredido pelo agressor, compelindo-o a se vingar da diferença.

O assassino de John Lennon, por exemplo, não tinha motivo também, como o atirador do Papa, para levar a cabo seu propósito.

São pessoas que se angustiam até o delírio agressivo pela notabilidade de suas vítimas, não suportando a celebridade dos seus alvos comparada à insignificância de si próprios.

Foi o mesmo caso – ou parecido – do homem que, ontem também, na igreja matriz da localidade de Tanabi, distante 477 km de São Paulo, em plena missa embebeu de álcool o rosto e a roupa do padre que oficiava o rito, e tinha a intenção de atear fogo no sacerdote.

O agressor aproveitou-se do momento em que, na missa, os fiéis estavam de olhos fechados e o padre estava de costas para o público para jogar álcool no oficiante. A seguir, quando estava preste a usar um isqueiro ou uma caixa de fósforos para levar a cabo o incêndio, foi impedido pelos fiéis, que o levaram preso.

Na delegacia, o agressor disse que estava tentando chamar a atenção da imprensa e de todos para o fato de que está com câncer na garganta e no pulmão.

Este homem que tentou incendiar o padre ontem pronunciou uma palavra básica para explicar estas agressões: a mídia. Ele queria chamar a atenção da mídia.

Essas pessoas, de tanto lerem jornal, escutar rádio e ver televisão, sem serem jamais protagonistas das milhares de notícias de que tomaram contato, resolvem chutar o balde e se tornarem elas atração do interesse da imprensa.

É uma espécie de ataque de inveja, clamando ao mundo: “Eu também existo!”.

Depois de tentarem assassinar o Papa, atirar os sapatos no Bush, atear fogo no padre que está rezando a missa, matar John Lennon, expulsam o demônio de ânsia de notoriedade que as consome, e sentem-se satisfeitas e vingadas por terem sido o centro de atenção de todos, pelo menos em um momento de suas vidas, nutrindo o sentimento mórbido de realização.

Vai-se entender dos desvios da mente humana! Embora exista um nexo fortíssimo entre todas estas perversões citadas: ânsia de afirmação por publicidade.

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