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terça-feira, 15 de dezembro de 2009
15 de dezembro de 2009 | N° 16186
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA
Ler e escrever
Leio com toda a atenção as recomendações publicadas em ZH para os candidatos à prova de redação do Enem. Sensatamente, a matéria lembra que os aspirantes a uma vaga na universidade devem escrever com letra legível, de tamanho regular.
Deve haver diferenciação entre maiúsculas e minúsculas, cada parágrafo deve ter ao menos duas frases, as novas regras de ortografia são optativas, as margem precisam estar alinhadas, pode haver rasura, desde que não comprometa a legibilidade. E o principal: o texto é desconsiderado se fugir ao tema ou à estrutura de uma dissertação, ou se o autor se identificar com a sua assinatura.
Perfeito: nada mais prudente que essas observações ajuizadas. Mas ao mesmo tempo me pergunto: por que há necessidade delas? A resposta não é bonita: porque simplesmente as pessoas desaprenderam de preencher uma folha de papel com ideias coerentes.
No meu tempo de escola, compor uma redação com um começo, um meio e um fim, ligados por um vínculo de pensamento lógico, era coisa que se aprendia no primário, hoje rebatizado de fundamental. No ginásio e no colégio, era um hábito corriqueiro, que não reclamava especial engenho e arte.
A isso se somava um hábito trivial: o de ler. Comprar ou ganhar livros, tirar volumes emprestados da biblioteca eram operações quase banais. Não se lia por causa de provas ou de exames, mas singelamente porque era um costume.
E então sobreveio um desastre. Quando eu já era adulto e tinha dado adeus aos bancos escolares, uma reforma do ensino mal formulada e pior digerida torpedeou a educação humanística. O latim, a filosofia, o francês foram banidos dos currículos. O inglês foi erigido língua única e os estudantes transformados em especialistas em minúcias.
Diminuiu-se um ano do ciclo médio e aboliu-se a divisão entre curso clássico e científico. O vestibular foi transformado numa roleta de cruzinhas e não restou o menor vestígio da redação. Uma geração inteira de alunos foi divorciada da necessidade de ler.
Hoje tudo isso está mudando novamente. É saudável que um jornal dedique uma página para explicar como se elabora uma redação. Nas cidades de tradição cultural, abrem-se grandes livrarias, como é o caso da Capital.
Mas para que esse cenário se mantenha, é indispensável conservar uma receita. Ela se resume a três palavras: ler e escrever.
Uma linda terça-feira. Para quem está de folga, aproveite a folga. Para quem não está aproveite o dia.
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