segunda-feira, 21 de dezembro de 2009



21 de dezembro de 2009 | N° 16193
PAULO SANT’ANA


O trator de Lula

O presidente Lula da Silva deve estar rindo sozinho: a candidata Dilma Rousseff subiu na pesquisa Datafolha para 23%, diminuindo para 14 pontos a diferença entre ela e José Serra. Na pesquisa de agosto, a diferença entre José Serra e Dilma Rousseff variava entre 19 e 25 pontos.

Além disso, ao entrar no último ano do segundo mandato, o presidente Lula ostenta o maior patamar de popularidade da história das pesquisas, desde que elas são realizadas: Lula tem 72% de popularidade, um número estonteante.

Todos os números favorecem diretamente o presidente Lula. Ele retirou de sua cartola a candidatura de Dilma Rousseff, quando ninguém pensava nela, contra tudo e contra todos no PT, que queriam um candidato com petismo mais tradicional.

Aos poucos, foram se amansando as reações contrárias a Dilma dentro do PT, a candidatura dela foi se consolidando no seio do partido e agora ameaça também consolidar-se entre o eleitorado.

Por incrível que pareça, num eleitorado brasileiro de que fazem parte 58% de pessoas que não têm saneamento básico (esgoto), grande parte da opinião pública não sabe que Lula não pode candidatar-se a uma segunda reeleição.

E o que a pesquisa do Datafolha de ontem mostra é que aos poucos parte significativa do eleitorado está compreendendo que Lula não pode ser candidato. E se quiser agradar ao presidente deverá votar em sua candidata preferencial.

Faz parte da estratégia de Lula, estranhamente, que Ciro Gomes seja mantido como candidato à presidência para os efeitos das pesquisas.

Ciro é aliado de Lula e fez com ele um pacto de manter sua candidatura até onde for possível.

E não é à toa que as pesquisas dizem que, caso Ciro não seja candidato, os 37% que José Serra ostenta passarão para 40% ou mais.

A engenharia de Lula consiste em transferir aos poucos, com ações governamentais orquestradas, toda a imensa popularidade do presidente para Dilma Rousseff.

Parece que Lula, nessa sua curiosa e até agora acertada estratégia, em determinado momento da campanha presidencial, fará ver ao eleitorado o seguinte: “Se vocês estão gostando da minha gestão e querem que ela se repita, votem em Dilma”.

Lula está com a faca e o queijo na mão e chega a ser surreal que possa estar materializando Dilma como candidatura viável, ela que nunca disputou outras eleições, fato importante quando se sabe que Lula tentou por três vezes ser eleito e José Serra vai para a segunda tentativa em eleger-se.

Com Dilma é diferente, ela nunca concorreu. E só este detalhe basta para que se considere, em face da pesquisa Datafolha de ontem, que ela pode vir a tornar-se um emergente e surpreendente fenômeno eleitoral.

A questão, pois, a somente 10 meses da eleição, é saber-se se José Serra resistirá ao caos das enchentes em São Paulo e se o imenso caudal de popularidade de Lula, 72% na pesquisa de ontem, se transferirá para sua candidata com o correr do tempo.

A sorte está lançada. Ou Serra se firma na liderança das pesquisas, ou cede diante do trator inédito da popularidade de Lula, que poderia ser capaz de transferi-lo para Dilma.

A minha opinião é de que se elege Dilma.

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