quinta-feira, 31 de dezembro de 2009



31/12/2009 e 01/01/2010 | N° 16202
PAULO SANT’ANA


Feliz Ano-Novo

Se eu tivesse que pedir alguma coisa ao Ano-Novo, iria pedir coisas praticamente impossíveis de serem conseguidas, embora sejam facilmente conseguidas.

Pediria que no ano que vem não se repetisse, em nenhum dos 365 dias, aquela execução bárbara havida agora em dezembro em Eldorado do Sul, quando um avô e um neto de apenas nove anos de idade foram degolados simplesmente por assaltantes dentro de sua casa.

Eu só pediria que ninguém mais injetasse dezenas de agulhas no corpo de nenhuma criança, como aconteceu lastimavelmente na Bahia e no Maranhão.

Se eu tivesse de pedir alguma coisa ao Ano-Novo que se avizinha, desejaria que fossem finalmente, depois de 40 anos do abandono penitenciário, construídas novas cadeias no Rio Grande do Sul, dando início, pelo menos, ao fim desse vergonhoso monumento à anticivilização que é milhares de presos se amontoando em cubículos imundos e a perversidade entre eles se consagrando pela entrega da administração das galerias nas mãos dos próprios detentos.

Se este Novo Ano tivesse de ser bom, que o fosse por não se fecharem mais hospitais como condenavelmente se vêm fechando entre nós, que se abrissem os hospitais disponíveis e fossem construídos novos estabelecimentos de saúde, ao contrário do que vem desastradamente acontecendo: a equação é desnorteante, quanto mais aumenta o número de pacientes mais diminui o número de vagas.

Que, de passagem, se acabasse com a fila para a cirurgia e para a consulta, que nos remete para o tempo das cavernas. Uma cirurgia de urgência só pode ser feita anos depois de agendada, quando já restam mortos ou mutilados os que apodrecem nas filas.

E que, antes que os homens de todas as nações se entendam sobre como vão diminuir as emissões e os desmatamentos, não mais saia o Obama rabanando da conferência do clima, clamando por ação dos outros países sem prometer qualquer ação dos seus EUA.

Não mais fique na moita a China, não arredando pé do crescimento anual de 8% mesmo que isso contribua decisivamente para o envenenamento das paisagens e para o rumo do caos na sobrevivência da espécie humana no planeta.

Que, mesmo assim, em meio a esse suicídio lento a que se atira a humanidade para um fim rápido, mesmo que por milagre, cessem essas tempestades e inundações que tantas vítimas têm feito e tantas desgraças pessoais têm causado aos flagelados.

Que diminuam os escândalos políticos, que os homens sejam mais gentis e as mulheres mais condescendentes, que a paciência seja uma regra nos engarrafamentos e diminuam os assaltos, mas que, se aumentarem, pelo menos os assaltantes não matem desnecessariamente suas vítimas, que se levem os anéis mas que fiquem os dedos.

Que se elejam os melhores ou os menos ruins e que o entendimento prevaleça entre os homens, que se moderem o Irã e o Hugo Chávez, que a dupla Gre-Nal faça papel melhor que o de 2009 e, principalmente, não tenha mais apagão na energia elétrica nem na ternura dos corações.

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