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sábado, 12 de dezembro de 2009
13 de dezembro de 2009 | N° 16184
DAVID COIMBRA
Um dia houve um xis-bacon com ovo
O último xis que comi foi em 1997. Lembro bem daquele xis. Tinha de tudo lá dentro. Muito bacon, muita maionese et cetera. Xis de verdade tem que ter bacon e maionese. E et cetera. Aquele era recheado de etcéteras abundantes.
Não deixei de comer xis porque aquele de há 12 anos fosse ruim. Nunca parei de comer algum tipo de comida devido a uma eventual porção malfeita. Prova? Uma vez, num janeiro distante, tomei aqui mesmo na Zero um expresso com gosto de morte. Sério. Era como se estivesse engolindo o próprio Mal. Pois bem. Continuo tomando expressos todos os dias, embora tenha um pouco de medo.
Em outra época, nos velhos e bons anos 80, fomos acampar em Cachoeira, e passamos o fim de semana no fundo do campo, isolados da civilização, sem comida sólida. Ao voltar para a cidade, eu e meu amigo Fernando Araújo corremos ávidos para uma carrocinha de cachorro-quente.
Pegamos nossos cachorros e sentamo-nos sôfregos no banco da praça, a fome nos corroendo as entranhas. Dei uma mordida no cilindro de pão. O Fernando também. Nos olhamos. Disse para ele, num misto de admiração e horror:
– Fernando! É o pior cachorro-quente da minha vida!
O Fernando concordou. Não comemos mais aquele cachorro-quente. Não comi mais nada pelo resto do dia. Fiquei com raiva de comida. Mas na semana seguinte já estava na fila do infalível Cachorro do Rosário.
Não foi aquele xis de há 12 anos, portanto, o responsável por minha abstinência xisística. Na verdade... não sei o que foi. Simplesmente não houve ensejo para outros xis depois de 97.
Tenho de voltar a comer xis. Pelo menos de vez em quando. O xis é a comida mais porto-alegrense que existe. Vatapá é de Salvador, feijoada é do Rio, pão de queijo é de BH.
Xis é de Porto Alegre.
A gastronomia de uma cidade diz muito sobre seus habitantes. Porto Alegre pode se gabar de duas criações gastronômicas: o xis e o espeto corrido. Não são pratos. São comidas selvagens, cometidas mais para empanzinar do que para alimentar. Mostram o caráter proteico do porto-alegrense.
É precisamente isso. A proteína escoa pastosa pelas sarjetas da capital de todos os gaúchos, está impregnada como um trauma de infância na alma do porto-alegrense.
É por isso que somos como somos.
Observe um vegetariano. Sua tez é amarelada, ele é lerdo, parece sempre meio distraído. Natural. Saladas, brócolis, grãos de bico e alfaces são comidas amenas. Mas um xis, o que é um xis? Um xis é comida de bárbaros.
Não é um pacato sanduíche, não é um comportado hambúrguer. Nada disso. Um xis é por natureza agressivo. Conheci um xis que levava o apelido de LP, porque era do tamanho de um Long Play. Conheci xis que davam medo. Quem se alimenta de algo assim, no que haverá de se transformar?
Eis o busílis. O excesso calórico. A proteína pulsante. Há muita energia represada sobre cada cadeirinha de plástico dos trailers de xis da cidade. Faz com que muitos de nós estejamos sempre prontos para o conflito. Assim, o Rio Grande é o campeão de recursos na Justiça em todo o Brasil, e cada debate por aqui é maniqueísta. Ou se é contra ou se é a favor. Não existem matizes. Não é possível a ponderação.
Se você elogia uma ação do Lula, você é de esquerda; se elogia uma medida da Yeda, é de direita. Quem é a favor da agricultura familiar é contra o agronegócio. Quem questiona a greve é contra os professores.
É Cpers versus governo, Farsul versus MST, ecologistas versus desenvolvimentistas. É um contra o outro, nunca um com o outro. Eternamente opostos, jamais trabalhando em cooperação.
E a fórmula do campeonato só pode ser de pontos corridos ou mata-mata. Ou a atual ou a antiga. Por que não pontos corridos com uma final em três ou quatro jogos entre os primeiro e o segundo colocados? Daria, não daria? Basta mudar a lei. Mas quem há de aceitar meio-termo nessa terra de ferozes comedores de xis?
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