sábado, 6 de dezembro de 2008



07 de dezembro de 2008
N° 15812 - PAULO SANT’ANA


A dor de ser acusado

Deixa eu entender melhor este capítulo findo sexta-feira, em que o Ministério Público, depois de ingentes investigações, declarou que a casa da governadora Yeda Crusius foi comprada antes de ela assumir o Piratini e não houve qualquer vestígio de improbidade na aquisição do imóvel.

A acusação de que a governadora adquirira a casa ao locupletar-se de recursos públicos surgiu no auge da Operação Rodin, na qual a Polícia Federal desbaratou uma quadrilha que agia no Detran sob a forma de propinoduto oriundo de fundações que esfolavam a bolsa popular com a cobrança de taxas extorsivas para aquisição da carta de habilitação para os motoristas.

Fragilizada pelo escândalo no Detran, a governadora foi pasto fácil para as acusações de que comprara a casa com recursos públicos.

Alguns dizem que a governadora deveria desde o início das acusações tê-las refutado com documentos.

Mas o ônus da prova não cabe aos acusadores? Dizem os que objetam a governadora que no caso da pessoa pública é obrigação dela a transparência total sobre os seus bens.

Mas, se a governadora não adquiriu a casa durante seu mandato no Piratini, fê-lo antes, tinha ela o dever de formalizar sua defesa, quando o que interessava no momento eram as investigações apenas atinentes ao seu mandato?

O que sei é que a governadora suportou por um ano inteiro as acusações e as dúvidas sobre a compra de sua casa.

Deve ter custado muito caro a ela suportar as acusações. Isso moralmente, porque materialmente custou-lhe também caro contratar advogado e organizar a sua defesa.

Agora o Ministério Público declara encerradas as investigações, conclui que a casa foi comprada antes de ela assumir o governo e que os recursos para a aquisição do imóvel foram absolutamente lícitos.

Eu bati duro no governo aqui nesta coluna sobre o escândalo do Detran.

Eu bati duro no governo ainda na semana passada sobre essa pressa inexplicável para prorrogar os contratos dos pedágios.

E justamente por isso é que não posso, por dever de imparcialidade, me calar agora, quando o Ministério Público inocenta totalmente a governadora no aspecto da compra da sua casa.

Dói-me ver que uma acusação desse tipo, tão grave quanto caluniosa, tenha pesado durante 13 meses sobre uma pessoa inocente, cuja aparência de probidade tem de ser sempre mantida, apesar das ânsias vis e ambições ferozes da vida política e os ímpetos oposicionistas de denúncia.

Não há bem maior de uma pessoa que a reputação. E quando ela está investida de múnus público, ainda se torna um bem muito valioso a sua reputação.

Por isso é que me condôo com o que sofreu a governadora durante os ataques à sua reputação na compra de sua casa.

E muito mais condoído fico quando penso que é brutal para um acusado que caiba a ele o ônus de provar que não é culpado.

Soltaram as acusações contra Yeda como folhas amarelas de outono, que agora merecida e desmoralizadamente restaram caídas no chão, à espera apenas da vassoura que as jogue no lixo.

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