03 DE DEZEMBRO DE 2021
OPINIÃO DA RBS
ESTABILIDADE PARA CRESCER
A queda de 0,1% do PIB brasileiro entre julho e setembro, que colocou o país em recessão técnica pela sequência de dois trimestres consecutivos de resultados negativos, está no retrovisor. O desempenho ruim não chegou a ser grande surpresa. No decorrer dos últimos meses, foram inúmeros os avisos sobre as dificuldades enfrentadas que apontavam para uma desaceleração da atividade. Para alguns entraves, como a falta de chuva e a escassez global de matérias-primas, não havia solução. Mas não faltaram problemas internos de gênese política que contribuíram para a performance frustrante, que joga mais dúvidas sobre o cenário para 2022.
A esta altura do ano, faltando poucas semanas para a virada de calendário, é secundária a taxa final de crescimento do país ao final de 2021. É o momento de um olhar de mais longo prazo. A reação necessária, neste momento, é a da sociedade. Por sociedade, entenda-se o cidadão comum, os empresários, lideranças de outros segmentos e mesmo os políticos. Com a proximidade de mais uma eleição presidencial, é basilar a compreensão de que, para sair do atoleiro, o Brasil precisa de estabilidade política em primeiro lugar. Apenas o fim dos sobressaltos constantes dará as condições fundamentais para uma sólida recuperação da confiança dos agentes da economia, incluindo-se os consumidores, e para a costura de consensos mínimos, que possibilitem o avanço das reformas que o país exige. São vitais mudanças estruturais que simplifiquem o sistema tributário, conferindo maior competitividade para os empreendedores brasileiros, e racionalizem os gastos públicos com pessoal, com ganhos de produtividade.
As reformas que o país demanda dependem de um governo verdadeiramente engajado nas reorganizações propostas e de um parlamento mais responsável e comprometido, que trabalhe pelos interesses do país, e não movido pela busca de vantagens particulares ou para seu círculo político. A desarticulação atual, fruto de um Executivo fraco e do domínio no Congresso de um grupo mais preocupado com as suas próprias urgências eleitorais, dá margem ao populismo e ao desarranjo das contas públicas.
A PEC dos Precatórios, que derrubou definitivamente o teto de gastos, âncora fiscal do país, é apenas o mais recente exemplo desta postura inconsequente. Com a desculpa de amparar a população mais carente, optou-se por uma saída que atingirá estas mesmas pessoas, em forma de inflação alta e economia parada, com reflexo no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, abre-se espaço no orçamento para uma série de benesses, incluindo emendas que favorecem os próprios parlamentares.
O país ingressará em 2022 com inflação alta, moeda desvalorizada, desemprego resistente, juros subindo e atividade hesitante. O Brasil destoa na recuperação global da economia em 2021 e corre o risco de somar mais uma decepção em 2022. Mas um olhar mais detalhado sobre os números do terceiro trimestre dá alguma esperança. O avanço de 1,1% do setor de serviços, o de maior peso no PIB, mostra os benefícios da vacinação, que permitiram a reabertura mais segura das atividades.
O consumo das famílias, da mesma forma, subiu 0,9%. Boa parte da queda de 0,1% da economia no período de julho a setembro se deveu à agropecuária, com dificuldades pontuais. O campo, no entanto, não é problema, mas solução. As variáveis domésticas do indicador até performaram razoavelmente bem. Mas o potencial brasileiro é muito maior. E é possível voltar a crescer e a gerar empregos de forma consistente e duradoura, desde que a sensatez fiscal seja recobrada e o compromisso com reformas profundas, retomado. Mas o pilar da recuperação, sem dúvida, será a volta da moderação, do diálogo construtivo e o fim dos conflitos políticos e institucionais.
Apenas o fim dos sobressaltos constantes dará as condições fundamentais para uma sólida recuperação da confiança dos agentes da economia
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