segunda-feira, 28 de dezembro de 2020


28 DE DEZEMBRO DE 2020
DIÁRIOS DO MUNDO

Inveja dos hermanos?

Aliada do Brasil no Mercosul, mas histórica rival do ponto de vista geopolítico na América Latina, a Argentina sairá na frente na vacina contra a covid-19.

O governo do kirchnerista Alberto Fernández começará a imunizar sua população contra o coronavírus amanhã. Como todo assunto que desperta polarização política, há motivos para provocar inveja aos brasileiros ou, no mínimo indiferença - para não falar desprezo -, dependendo do lado que se escolhe do espectro ideológico.

A vacina russa Sputnik V chegará a cada província da nação vizinha hoje e, já pela manhã, serão administradas as primeiras doses.

Sabe-se que os países que imunizarem suas populações sairão antes da crise sanitária e econômica - além, claro, de pouparem vidas.

Do ponto de vista da rivalidade política entre os presidentes Jair Bolsonaro e Fernández, o brasileiro perde. A ideia do governo argentino é vacinar até 10 milhões de pessoas até fevereiro, enquanto o brasileiro não tem, neste momento, sequer uma data oficial e precisa para o início da campanha de vacinação.

A Argentina é a terceira maior economia da América Latina e, imersa no caos econômico antes mesmo da pandemia, viu 42 mil cidadãos morrerem por causa da covid-19 - e outros 1,6 milhão serem infectados. Cerca de 300 mil doses chegaram ao país na quinta-feira.

Fernández está dando a sua população um imunizante que toda a humanidade deseja. Entretanto, há a outra metade do copo. Pesam sobre a Sputnik V, a substância escolhida pelos argentinos, muitas dúvidas sobre segurança e efetividade. Pesquisadores demonstram preocupações sobre a velocidade com que o país de Vladimir Putin tem trabalhado na vacina, sem que testes sejam completamente concluídos.

Defensores do presidente Bolsonaro afirmarão o mesmo que dizem sobre a imunização chinesa - não há garantias de efetividade (a Rússia diz que ela alcançou mais de 90%). Além de não ter concluído ainda todas as etapas da pesquisa, o país não divulgou até o momento qualquer evidência científica que confirme a eficácia e a segurança da vacina. Falta transparência. Além da Argentina, apenas a própria Rússia e outro aliado histórico, Belarus, aprovaram seu uso de forma emergencial.

RODRIGO LOPES

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