18 DE DEZEMBRO DE 2020
OPINIÃO DA RBS
Vacina e conscientização
Com o país possivelmente a algumas semanas do início da imunização contra a covid-19, é urgente dar a largada em uma ampla campanha com o propósito de esclarecer a população sobre a segurança das vacinas que serão utilizadas e rebater a profusão de informações falsas sobre o tema que circulam em redes sociais. Essa ofensiva, a ser capitaneada por instituições, autoridades e especialistas na área da saúde, ganha ainda mais importância com a preocupante constatação de uma pesquisa divulgada no início da semana mostrando que, de agosto a dezembro, mais do que dobrou o percentual de brasileiros que dizem não estar dispostos a se proteger.
Ter uma cobertura vacinal de pelo menos 70% no país é essencial para uma boa imunidade coletiva ser alcançada, minimizando a circulação do vírus e, com isso, diminuindo o número de casos e o de mortes. Quem se vacina está potencialmente protegendo não apenas a si mas às demais pessoas com quem tem contato frequente ou eventual. Isso porque não existe vacina com 100% de eficácia. Ou seja, nem todos os que receberem a sua dose ficarão imunizados. Ao mesmo tempo, há grupos que não podem ser vacinados e, assim, ficam mais suscetíveis caso um elevado percentual da população teime em não se vacinar, seja por acreditar em notícias falsas ou por birra ideológica.
Conforme o Instituto Datafolha, em agosto 9% dos entrevistados disseram que não pretendiam vacinar-se. Agora, o percentual passou para 22%. Um aumento significativo. Os que estão dispostos a se proteger, por outro lado, eram 89% e passaram a ser 73%. A iniciativa para disseminar informações que transmitam segurança aos brasileiros deve partir do Ministério da Saúde e ser replicada por autoridades estaduais, municipais, médicos e demais profissionais e entidades da área. Do presidente Jair Bolsonaro, aguarda- se que ao menos evite semear mais desconfiança, como fez nesta semana ao dizer que não se vacinaria e que seria necessário assinar um termo para receber o fármaco. Um contingente expressivo dos brasileiros é seguidor de Bolsonaro, e a sua opinião, mesmo colidindo com o consenso científico, é levada em consideração por esse grupo.
Desestimular a imunização é um desserviço à saúde coletiva. Tampouco é aceitável que se estimule rejeição específica à CoronaVac, desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan, apenas por ter origem chinesa. Uma vez aprovada nas instâncias necessárias, possivelmente será uma das vacinas a que o Brasil terá maior acesso em termos de volume e, portanto, passaria a ser estratégica para o plano de imunização que o Brasil começa a colocar em curso.
A vacinação no Brasil não será forçada, mas o Supremo Tribunal Federal (STF), que ontem julgava ações sobre o tema, decidiu que são cabíveis sanções para quem teimar em não aderir à rede de imunidade que o Brasil precisa formar. Bolsonaro, que repete sempre ter preocupações com a economia, deveria ouvir o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Também nesta semana, Campos Neto observou que os custos com a vacinação são muito menores do que ter de manter políticas de transferência de renda necessárias em caso de eventual retorno de medidas restritivas. Incentivar a imunização em massa é o melhor plano econômico de que o governo federal pode dispor agora. Até o presidente norte-americano, Donald Trump, que Bolsonaro costuma imitar, tem se mostrado entusiasmado com o início do processo nos EUA. Mesmo que seja por simples cálculo político, faria bem ao Brasil se agora o mandatário brasileiro o copiasse nisso também.
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