terça-feira, 22 de dezembro de 2020


22 DE DEZEMBRO DE 2020
NÍLSON SOUZA

Um presente de ave-marias

Na semana do Natal e já na proximidade do final do ano, estamos todos desafiados a presentear parentes e amigos sem desafiar o vírus com exposição demasiada e desnecessária na compra e na entrega das respectivas lembranças. Comprar pela internet e enviar por serviços de telentrega são as atitudes mais recomendáveis, embora muitas pessoas tenham dificuldade com a tecnologia e outras tantas possam considerar essa terceirização fria e impessoal.

Tem outro jeito? Tem, certamente, muitos outros até. Depende da criatividade e da sensibilidade de cada um. Nesse contexto, relato um episódio pessoal e familiar para lembrar que, apesar das restrições, sempre é possível encontrar um presente carinhoso e que faça sentido para as pessoas que amamos.

Minha mãe, que completou 97 anos em novembro e viveu essa vida inteira no catolicismo, ainda reza o terço todos os dias. Já lhe devo mais orações do que poderei pagar nesta e na próxima existência, se a sua crença estiver correta. Pois bem, o caso era este: como celebrar uma data tão marcante sem a possibilidade de reunir parentes e amigos sequer para um café com rosquinhas?

Pois reunimos. Com a ajuda desse brinquedinho mágico que todos carregamos no bolso ou na bolsa, conseguimos que os "convidados" nos encaminhassem vídeos gravados em seus próprios celulares, rezando uma ave-maria para ela. A ideia inicial era devolver-lhe 97 orações, mas, devido ao constrangimento de alguns e à incompatibilidade religiosa de outros, recolhemos em quatro dias as 53 ave-marias do rosário, além de outras mensagens igualmente afetuosas. Depois, foi só editar num vídeo e colocar na televisão da casa para que ela pudesse receber as homenagens no sofá da sala - muito emocionada, rezando junto e interagindo com as imagens como se filhos, netos, bisnetos, amigos e demais parentes estivessem lá.

Neste momento estranho por que estamos passando, acho que acabou sendo o melhor presente que ela poderia receber até que os abraços ao vivo estejam liberados. Crenças à parte, um presente de Natal não precisa ser exatamente uma oração: pode ser um telefonema, uma mensagem, um cartão, um abano do portão, um beijo arremessado da intenção para o coração.

NÍLSON SOUZA

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