terça-feira, 29 de dezembro de 2020


29 DE DEZEMBRO DE 2020
JULIANA BUBLITZ INTERINA

Uma dose de esperança

Confesso ter sentido uma ponta de inveja. Quando vi a imagem daquela senhorinha de 101 anos, sorridente atrás da máscara, recebendo a primeira dose da vacina contra o coronavírus, na Alemanha, pensei: "Quem dera nossos pais e avós pudessem protagonizar a mesma cena. Quem dera..."

Depois, foram chegando outras imagens ao longo do último domingo, acompanhadas de depoimentos cheios de entusiasmo, vindos de países como França, Espanha e Itália. A sensação era de alívio após meses de perdas e restrições severas, em meio a um inverno melancólico no Hemisfério Norte.

É claro que vibrei, mas também senti um misto de frustração e de impotência. Ainda que tenha se tornado referência mundial pelo Programa Nacional de Imunizações, o Brasil, com 191 mil mortes por covid-19, estava ficando para trás - inclusive dos vizinhos da América Latina. Triste.

Para nossa sorte, somos um país com centros de pesquisa de ponta, conduzidos por estudiosos abnegados, acostumados a lidar com dificuldades de todos os tipos. Tenho a convicção de que a saída para o brete em que nos metemos é uma só: a ciência.

Tive a certeza disso ontem, durante uma entrevista que me devolveu a esperança - costumo dizer que nós, jornalistas, temos a felicidade de encontrar gente interessante no caminho e de viver momentos únicos. Às vezes, vem tudo isso junto.

Fui escalada para cobrir a folga da colunista Rosane de Oliveira no comando do Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, ao lado de Daniel Scola. Esse programa, vocês sabem, é campeão de audiência e célebre por dar voz a grandes entrevistados.

A pedido de Scola, o produtor Bruno Pancot, um dos nossos craques, conseguiu, em cima do laço, marcar uma conversa, ao vivo, com o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger. A fundação é a responsável, no Brasil, pela produção da vacina da Universidade de Oxford.

Com voz firme e serena, o doutor em ciências biológicas foi didático e tranquilizador nas respostas. Com 30 anos de Fiocruz, Krieger garantiu: a instituição fará o pedido de registro do imunizante junto à Anvisa em até duas semanas. Antes mesmo do resultado, dará início à produção, ainda em janeiro.

Especializado em genética molecular, o pesquisador destacou a qualidade dos estudos e disse não ter dúvidas "de que a vacina vai chegar e vai chegar em quantidade muito grande". Serão pelo menos 10 milhões de doses no mês de fevereiro (próximo da população do Rio Grande do Sul) e, a partir de março, 15 milhões. A intenção é atingir 210 milhões de ampolas. Como cada pessoa deverá receber duas aplicações, ao menos 105 milhões de brasileiros serão beneficiados.

A salvação, repito, não virá da política. Virá da determinação e da coragem de nossos cientistas.

*O colunista David Coimbra está em férias e retorna no dia 15/01.- JULIANA BUBLITZ | INTERINA

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