O poder da inércia
Uma das plantas que moram no meu apartamento adoeceu. De repente, começou a amarelar. Telefonei para um especialista. Mandei fotos. Concordamos que tratava-se de uma situação anormal. Não era falta ou sobra de água, disso eu tenho certeza. Relatei minhas suspeitas: fungo, mau-olhado, praga, veneno - uma dedetização havia sido feita poucos dias antes. Ele se comprometeu a "dar uma passada aí na semana que vem". Enquanto isso, o vegetal sofria. Eu acompanhava a agonia das folhas, cada vez mais secas.
Na "semana que vem", o especialista não apareceu. Liguei de novo para ele. "Na outra semana eu vou". Não veio. As folhas caíram todas, absolutamente todas. Só daquela planta. As outras, em volta - e isso me intrigava -, transbordavam brotos e flores.
Em geral, acordo cedo e faço a minha ronda: completo o potinho do Lennon com água, ganho em troca umas sacudidas de rabo e, eventualmente, lambidas do "bebê velhinho", um vira-latas todo pimpão de 16 anos. E aí cuido dos vasos e da hortinha plantada na floreira da janela. Desbasto, rego, conto o número de brotos e de flores, dou petelecos nas eventuais formigas cortadeiras que especulam meu território.
Mas aquele canto sem vida me entristecia. Numa manhã, faz uns 20 dias, olhei para o espaço vazio e vi que, junto às raízes, nasciam 11 brotos de novas folhas. Todas saudáveis, verdinhas, ainda enroladas em si mesmas. Elas foram crescendo e hoje ocupam praticamente o mesmo espaço das que haviam secado e caído.
Não me contive. Liguei para o especialista, que é um baita profissional, para contar a novidade. E, embora às vezes eu seja mesmo irônico, agradeci a ele, com absoluta sinceridade, pela lição que me deu ao não aparecer. A gente se angustia, sofre, investe e se preocupa, enquanto, às vezes, a natureza das coisas e do universo só nos pede uma coisa, uma única coisa para resolver problemas que parecem insuperáveis: tempo.
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