segunda-feira, 21 de dezembro de 2020


21 DE DEZEMBRO DE 2020
DAVID COIMBRA

Às 7h02min desta segunda-feira

Então, nesta segunda-feira, às 7h02min, o verão chegará a Porto Alegre. É reconfortante saber a data exata em que ocorrerá um evento importante como esse. Porque, confesso, andava em dúvida. Perguntava para as pessoas: "O verão já chegou? Quando surgirá o verão?" Ninguém sabia ao certo e, curioso, ninguém se atreveu a consultar o Google. Afinal, ter consciência da estação do ano em que se vive há de ser uma sabedoria ancestral, algo que Kant chamaria de "conhecimento a priori". Alguém que apelasse ao Google poderia receber uma resposta irritada: "Isso é pergunta que se faça?"

Mas o rádio e o jornal me informaram que tudo muda às 7h02min. Ficarei atento. Sairei à rua para sentir o primeiro mormaço ou, quem sabe, um vento quente que soprará do Guaíba e me envolverá em uma preguiça mole, uma vontade de ficar deitado na rede, meio sonolento, não pensando em nada. Assim é o verão, um tempo em que os movimentos têm a pressa do gato enrolado no sofá.

O verão é também a época em que as mulheres vestem minissaias. Sei bem que, hoje em dia, falar em mulheres de minissaia é perigoso. Você pode ser acusado de "coisificar" ou de "reificar" a mulher e tudo mais. Não se trata disso. Não estou fazendo uma ponderação de natureza sexual, trata-se apenas de uma consideração estética. Admiro, por exemplo, a majestade do leão, a dignidade do cavalo, a inocência arredondada da criança pequena. Suponho que não seja errado, portanto, ficar encantado com a beleza naturalmente explosiva de Irina Shayk ou com a malícia ruiva de um sorriso de Marina Ruy Barbosa ou com a graça das brasileiras de minissaia no verão.

Porque as mulheres mudam quando estão dentro de minissaias no verão, e isso constatei desde cedo, quando cursava a oitava série no Amstad, coleginho encarapitado nos altos do IAPI. Na minha turma estudava uma menina que... não revelarei seu nome, vá que se ofenda, nunca se sabe. Direi que se chamava... Cecília. Eis. Cecília é bom nome. Acontece que Cecília era o que, na época, se classificava como menina-moça, uma adolescente um pouco mais velha do que nós, talvez fosse repetente. Devia ter uns 16 anos.

Cecília não era bonita nem feia. Não se destacava como especialmente inteligente nas aulas, mas também não parecia nada burra. Era uma moça normal. Até que chegava o verão. Não o calor; o verão. No dia da entrada da nova estação, não antes, nem depois, no dia preciso, Cecília fazia o seguinte movimento: caminhava rapidamente pelos corredores dentro de sua saia que lhe descia até os joelhos e se trancava no banheiro. Lá, dobrava várias vezes a cintura da saia, fazendo com que a barra lhe subisse pelo alto das coxas. Assim ela voltava para a sala de aula mais confiante, mais manemolente, mais felina, mais veranil. Cecília agora era outra: não mais uma menina, quase uma mulher. De sorriso de lado. De olhar faiscante. Até suas notas de matemática subiam naqueles dias. Pena que fossem poucos. Do início do verão até o encerramento das aulas, tínhamos uma semana, no máximo.

Cecília havia passado por essa transformação em pelo menos dois verões, na sétima e na oitava. Deve ter continuado sua troca de pele segundo grau adentro, não sei, fui para outra escola. Só sei que, depois de vê-la na oitava série, sempre penso que o verão é tempo de mudança e que os seres mais sensíveis aos chamados da Natureza, como as mulheres iguais a Cecília, sentem isso no ar, e mudam também. Por que mudanças passará Cecília às 7h02min desta segunda-feira? Queria estar por perto para ver.

DAVID COIMBRA

Nenhum comentário: