quinta-feira, 24 de dezembro de 2020


24 DE DEZEMBRO DE 2020
INFORME ESPECIAL

Hora de desejar coisas boas

A ciência ensina que a fé tem razão. Acreditar em algo positivo e alimentar bons pensamentos são gatilhos de bem-estar, mental e físico. Na década de 80, inspirado por um professor de Filosofia da PUC, me joguei na aventura de ler Fritjof Capra, teórico austríaco que ajudou a construir a ponte entre as religiões orientais e a física quântica. Muito me impressionou, na época e até hoje, as páginas que dedicou a explicar a gigantesca dimensão e relevância do espaço vazio.

Anos mais tarde, um outro físico, esse gaúcho, percorreu um caminho semelhante. Da primeira vez que entrevistei o Lama Padma Samtem, ele ainda era conhecido como professor Alfredo Aveline, da UFRGS. Foi a partir daí que chegou ao budismo, não como ruptura, mas como parte de um caminho cheio de bifurcações, mas uno.

Hoje, Capra é referência mundial na defesa racional do pensamento ecológico e holístico. Padma Samtem se transformou em uma das principais referências budistas da América do Sul.

Em 1992, aprendi mais uma lição definitiva. Naquele ano eu morava em Barcelona e fui convidado para trabalhar como agente pastoral no centro ecumênico da vila olímpica. O Michel Jalfon, amigo franco-catalão, e eu cuidávamos da pequena sinagoga do Centre Abraham durante as Olimpíadas, onde havia também uma mesquita, uma capela católica, um templo budista e um pequeno espaço protestante. Ali convivíamos todos, em meio ao entra-e-sai de atletas que buscavam momentos de paz antes ou depois das provas. Naquelas conversas aprendi que as convergências entre nós são muito, muito maiores do que eu jamais poderia imaginar.

Não há muros nem paredes. Nós as inventamos porque acreditamos, erroneamente, que elas nos dão segurança. Em 1985, quando morava em Jerusalém, fui caminhar pela Cidade Velha numa véspera de Natal. Sem querer, parei em frente a uma igreja. Dentro dela, alguém tocava Bach. Entrei. Não avistei ninguém. O órgão ficava lá em cima, em uma espécie de mezanino. Não via quem dedilhava os teclados. Eu estava só diante do altar e senti, intensamente, uma conexão plena e inspiradora.

Tenho minhas intolerâncias, meus ranços e meus desacertos. São muitos, garanto. Mas nessa época do ano, me convido sempre a percorrer esse caminho que a vida me mostrou: tentar unir, convergir, compreender. Nem sempre é fácil, nem sempre é possível, nem sempre funciona. Mas se não tentarmos, não saberemos. Então, um Feliz Natal aos amigos cristãos. E aos budistas, muçulmanos, seguidores das religiões de matriz africana, judeus, ateus, agnósticos...

TULIO MILMAN

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