29 DE DEZEMBRO DE 2020
NÍLSON SOUZA
Não acredito!
Acho que fui contaminado pelo vírus do negacionismo nesta antevéspera de Ano-Novo.
Me recuso a acreditar que os digníssimos magistrados do STF e do STJ tenham mesmo tentado furar a fila da vacinação, solicitando reservas de doses para juízes, servidores e seus dependentes. Não pode ser verdade que Suas Excelências tenham cogitado de incluir a imunização prioritária no seu já extenso cardápio de mordomias, sabendo que milhões de brasileiros sem plano de saúde especial, férias de 60 dias, auxílio-transporte, auxílio-moradia e vencimentos acima de todos os tetos agonizam nas portas das UTIs superlotadas. Deve ser invenção da mídia alarmista ou alguma campanha maldosa das redes sociais para desconstruir a imagem do nosso respeitável Judiciário.
Não posso crer, também, que o Detran e suas sucursais estaduais estejam tentando aplicar um golpe nos contribuintes ao manter a mesma (e exagerada) taxa para emissão do Certificado de Registro de Licenciamento de Veículos (CRLV) depois de terem substituído o documento impresso pela versão digital que dispensa gastos com papel, tinta e correios. Só pode ser pegadinha: nossas autoridades do trânsito, sempre mais preocupadas em disciplinar do que em arrecadar, não nos aplicariam uma trapaça dessas.
Duvido, ainda, que esteja mesmo acontecendo uma espécie de desobediência civil por parte de prefeitos que descumprem as restrições impostas pelos governos de seus Estados a atividades comerciais, turísticas e esportivas que geram aglomeração. Li que em São Paulo, o Estado do país com mais mortes causadas pela pandemia, nada menos do que 18 prefeituras optaram por manter os seus municípios na cor laranja quando o Estado está todo vermelho.
Aquelas imagens de praias lotadas, bares repletos de gente e movimentação descontrolada do comércio também não podem ser reais. Não, isso não pode estar acontecendo em nenhuma parte deste país dizimado pelo vírus e pela ignorância. Deve ser alguma reportagem antiga que a televisão esqueceu de atualizar.
Por fim, já embriagado de negacionismo, duvido-o-dó que estes frágeis dardos de ironia sequer façam cócegas nos seus alvos.
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