quarta-feira, 23 de dezembro de 2020


O DESAFIO DO EMPREGO

Mesmo que existam sinais de que as empresas passaram nos últimos meses a contratar mais do que demitir, gerando saldos positivos na criação de vagas com carteira assinada, ainda vai demorar para o Estado recuperar todos os postos eliminados no período de maior impacto da pandemia na economia. Reportagem publicada ontem em Zero Hora ilustra o quadro. De março a junho, o Estado perdeu 135,4 mil empregos formais e, de julho a outubro, resgatou somente 51 mil. No ano, o número acumulado também é negativo em 48 mil, conforme os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Não será por passe de mágica ou promessas governamentais que se esvaem com o tempo que o Rio Grande do Sul vai voltar a absorver essas dezenas de milhares de trabalhadores. Uma recuperação plena e o início de uma nova fase de geração consistente de vagas depende essencialmente de indícios firmes de reerguimento da economia, levando as empresas a recobrar a confiança para preencher postos ociosos e criar novos. No país, o cenário não é diferente. De janeiro a outubro, o saldo negativo nos empregos com carteira assinada ainda é de 171 mil.

Essa segurança ainda pendente está ligada a uma série de fatores. A mais urgente delas é a tarefa que deveria ser capitaneada pelo Ministério da Saúde de acelerar a implementação da campanha de imunização contra a covid-19, com maior celeridade na aquisição das vacinas e dos demais insumos. Obter o mais rápido possível uma ampla cobertura terá reflexos positivos para setores ainda seriamente machucados com a pandemia, como o de serviços, o de maior peso no PIB.

A construção de um maior otimismo também depende da manutenção da desoneração da folha de pagamento de 17 setores altamente intensivos em mão de obra. O veto do presidente Jair Bolsonaro para prorrogar o benefício foi derrubado pelo Congresso, mas agora o Planalto tenta reverter a decisão no Supremo Tribunal Federal (STF). Trata-se de um erro. Se o governo quer colaborar com a criação de empregos formais, os de maior qualidade diante da grande informalidade existente no país, não deveria batalhar para deixar contratações ainda mais dispendiosas para a iniciativa privada.

As chances de moldar um ambiente econômico que traga mais esperanças também se vinculam à remobilização pelas reformas tributária e administrativa. Nos últimos anos, mudanças nas regras trabalhistas e previdenciárias ajudaram na solução de distorções que geravam um alto custo para o país, mas o trabalho está incompleto. Após um 2020 desperdiçado, é inadiável dar no próximo ano uma solução que simplifique o cipoal de impostos e racionalize os gastos com servidores, reorganize carreiras e eleve a produtividade da máquina pública. Juntas, são reformas capazes dar mais competitividade às empresas instaladas no Brasil e oferecer um cenário fiscal menos nebuloso para o país.

O cenário é desafiador, mas há um caminho claro a ser seguido. Basta empenho em solucionar cada um dos entraves. Após uma nova década perdida, o Brasil precisa entrar no novo decênio com esperanças renovadas, recuperando o terreno de vários anos de crise que deixaram o país para trás na corrida global pelo crescimento e o progresso. Com vacinação, reformas e distensionamento político, o setor privado responderá gerando os empregos de que os brasileiros precisam. 

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