quinta-feira, 17 de dezembro de 2020


17 DE DEZEMBRO DE 2020
OPINIÃO DA RBS

DEMONSTRAÇÃO DE FORÇA

O porte da operação deflagrada pela Polícia Civil ontem em um complexo residencial popular em Alvorada, na Região Metropolitana, dá a ideia da dimensão que alcançou a ousadia de facções criminosas que, nos últimos anos, se apossaram de uma série de condomínios construídos para a população de baixa renda. Nos territórios que tentam controlar, expulsam moradores, e os que permanecem vivem sob o terror imposto por perseguição, violência e mortes. Fazem desses locais uma espécie de quartel-general para guardar armas, drogas e esconder comparsas. Para completar, ainda lavam dinheiro com a negociação dos apartamento tomados à força e vendidos de forma irregular.

Tamanha audácia necessita de uma resposta à altura, e foi o que fez mais uma vez ontem a Polícia Civil na oportuna ofensiva que envolveu 850 agentes, após 18 meses de investigações. O mesmo problema foi verificado em outros condomínios do programa Minha Casa Minha Vida e, nos últimos meses, ações parecidas das forças de segurança do Estado na Região Metropolitana também resultaram no desmantelamento de quadrilhas e prisões. É possível cogitar, portanto, a existência de outras comunidades nas áreas mais densamente povoadas onde os moradores sejam submetidos a uma convivência forçada com a criminalidade. Além de ofensivas como a lançada ontem, é preciso um trabalho de inteligência que se antecipe aos movimentos das facções e mate no nascedouro novas tentativas de se apoderarem de condomínios de programas de habitação.

A demonstração de força e eficiência na operação de ontem, uma das maiores da história da Polícia Civil gaúcha, ao lado de outras semelhantes, como em Canoas, no mês passado, e em Viamão, em outubro, mostra que as autoridades da área de segurança do Rio Grande do Sul estão atentas e reagindo à situa- ção. Golpear as facções em seus QGs e sufocá-las financeiramente permite esperar que os índices de criminalidade, especialmente de homicídios, fruto de guerra entre grupos organizados, caiam ainda mais. Mas é inaceitável, como descobriu a investigação, que as ordens para os crimes partam de um condenado recolhido a uma penitenciária e sob a tutela do Estado. Essa comunicação entre as celas e o mundo exterior precisa ser imediatamente cortada.

As estatísticas mostram que, em 2020, a quase totalidade dos principais delitos segue em trajetória de queda no Rio Grande do Sul, uma das poucas boas notícias neste 2020 marcado pela angústia da pandemia. Só a Polícia Civil, neste ano, fez em média uma operação a cada dois dias. Mas isso não significa que a criminalidade esteja derrotada ou que todos os gaúchos gozem dias de paz. As famílias mais humildes que vivem em condomínios populares merecem a devida atenção do aparato de segurança do Estado, como vem sendo feito agora. Aos expulsos, deve ser afiançado o retorno para casa sem o temor de represálias. E todos os demais moradores precisam ter a proteção necessária para não serem mais ameaçados e oprimidos por criminosos.

 

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