sábado, 19 de dezembro de 2020


19 DE DEZEMBRO DE 2020
DRAUZIO VARELLA

GERMES, ASMA E ALERGIA

A genética tem grande influência na suscetibilidade à asma e aos quadros alérgicos. Se um dos pais apresenta uma dessas doenças, os filhos correm mais risco de desenvolvê-las; quando são os dois pais, a probabilidade aumenta.

Nos últimos 50 anos, entretanto, o aumento dramático do número de casos nos países ocidentais sugere que o ambiente tem importância crucial. O impacto da exposição ambiental ficou claro quando estudos conduzidos na Europa Central mostraram que crianças criadas em contato com vacas leiteiras ficavam relativamente protegidas contra asma e alergias. A proteção foi atribuída ao contato com germes que estimulariam a resposta imunológica, embora os mecanismos envolvidos permanecessem obscuros.

Para esclarecê-los, um grupo da Universidade de Chicago comparou a prevalência de asma e alergias em duas populações americanas que vivem apartadas do resto da sociedade: a dos amishes que emigraram para os Estados Unidos nos séculos 18, e a dos huteritas que o fizeram no século 19.

Os amishes fugiram da Suíça por ocasião da Reforma protestante e formaram as primeiras comunidades no estado de Indiana. Por razões semelhantes, os huteritas saíram do Tirol e se estabeleceram em Dakota do Sul. Desde então, os casamentos intracomunitários mantiveram esses grupos reprodutivamente isolados. Curiosamente, a prevalência de asma e alergias entre os amishes é significativamente mais baixa do que nos huteritas.

O estilo de vida de ambos é semelhante em diversos aspectos que afetam a incidência das duas enfermidades: famílias numerosas, dietas ricas em gordura e leite não-pasteurizado, índices altos de vacinação, baixa prevalência de obesidade, amamentação prolongada, exposição mínima ao tabaco e à poluição e tabus contra animais domésticos no interior das casas.

Há uma diferença, no entanto: enquanto os amishes se dedicam à agricultura tradicional, os huteritas vivem em comunidades agrícolas industrializadas.

Foram estudadas 30 crianças em idade escolar de cada grupo. A prevalência de asma foi de 5,2% entre os amishes e de 21,3% entre os huteritas. Quadros alérgicos ocorreram em 7,2% e 33%, respectivamente. Os pesquisadores coletaram amostras de poeira das casas dos participantes, prepararam culturas e isolaram os lipopolissacarídeos presentes nas membranas externas das bactérias encontradas.

Em laboratório, colocaram esses lipopolissacarídeos em contato com linfócitos dos dois grupos: os dos amishes produziam maiores quantidades dos mediadores característicos da imunidade inata. Em seguida, testando camundongos portadores de asma alérgica, os autores demonstraram que a poeira das casas amishes foi capaz de suprimir a indução de fenômenos inflamatórios nas vias aéreas dos animais.

Os achados comprovam que a exposição à poeira das fazendas em que as crianças têm contato com os estábulos ativa a imunidade inata e provoca respostas imunológicas alternativas que previnem a emergência de asma e de outros processos alérgicos.

DRAUZIO VARELLA

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