quinta-feira, 31 de dezembro de 2020


31 DE DEZEMBRO DE 2020
INFORME ESPECIAL

Minhas previsões para o ano que termina

O jornalista Marcelo Rech, meu vizinho de página nos finais de semana, relembrou, poucos dias atrás, a frase do ex-ministro Pedro Malan: "No Brasil, até o passado é imprevisível". Inspirado por essa afirmação, apresento, a seguir, as minhas previsões para o ano que se despede. Abaixo, o que dirão sobre 2020 em 2021.

Muita gente dirá que as mortes eram inevitáveis e que, se nada tivesse sido fechado, a crise seria bem menor. Muita gente afirmará que o negacionismo em relação à covid-19 ajudou a matar muita gente que poderia estar viva.

O ministro Ricardo Salles afirmará que as queimadas não foram tão graves e que as ONGs, em vez de ajudar, só ideologizam a questão. As ONGs mostrarão mapas e relatório com dados sobre recordes de desmatamento e de queimadas na Amazônia e no Pantanal.

O governador Eduardo Leite dirá que, se o pacote do ICMS tivesse sido aprovado na integralidade, a crise nas finanças públicas seria menor.

Os liberais afirmarão que, se os impostos cobrados pelo governo ficassem com as famílias e com as empresas, a crise seria menor, porque a economia iria se fortalecer e mais empregos e tributos teriam sido gerados.

Uma parte da torcida colorada afirmará que, se Coudet tivesse ficado, o time teria sido campeão.

Outra parte da torcida colorada dirá que o time vinha caindo de desempenho e que, se Coudet tivesse ficado, o ano terminaria pior. Nos Estados Unidos, uma parcela dos analistas dirá que Donald Trump perdeu a eleição porque negou a covid-19 e reagiu de forma dúbia ao racismo.

Os trumpistas afirmarão que a derrota foi uma fraude eleitoral.

Quem vive na pele o racismo estrutural dirá que o assassinato no Carrefour de Porto Alegre não teria acontecido se a vítima fosse branca.

Uma parcela da população afirmará que não existe prova de que o espancamento foi motivado por racismo.

Jair Bolsonaro continuará jurando que nunca chamou a covid-19 de "gripezinha".

O vídeo em que Jair Bolsonaro chama a covid-19 de "gripezinha" continuará a ser largamente reproduzido.

Um lado afirmará que o maior problema político do Brasil em 2020 foi o radicalismo do outro lado.

Já o outro lado dirá que a culpa pelos problemas do Brasil foi do radicalismo. Do lado que o acusa de radicalismo.

TULIO MILMAN

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