quinta-feira, 17 de dezembro de 2020


17 DE DEZEMBRO DE 2020
ARTIGOS

O PAMPA ESTÁ AMEAÇADO

Professores do Instituto de Biociências da UFRGS e pesquisadores da Rede Campos Sulinos

Nos últimos 34 anos, mais de 2 milhões de hectares de campos nativos do bioma pampa foram convertidos em lavouras, pastagens plantadas e silvicultura, segundo dados do projeto Mapbiomas. A perda anual tem sido de 125 mil hectares nos últimos seis anos, sem sinais de decréscimo. Isso corresponde a 175 mil campos de futebol por ano, o que deveria gerar comoção pública e ações rigorosas de fiscalização. Nesse ritmo, em 2050 restará menos de 12,9% do bioma coberto por campos nativos, porém, em alguns municípios já resta agora menos de 6%.

Por que precisamos manter a vegetação nativa? Os campos do pampa apresentam flora e fauna únicas, uma biodiversidade riquíssima e não menos importante do que a de outros biomas brasileiros. Com perda da vegetação nativa, perdemos benefícios da natureza para a nossa qualidade de vida no campo e na cidade. A qualidade da água e dos alimentos depende diretamente da conservação dos ecossistemas naturais. Sem a vegetação nativa, a polinização de muitas culturas agrícolas fica comprometida. A conversão dos campos aumenta as emissões de gases de efeito estufa, agravando mais ainda as mudanças climáticas que já causam impactos sérios para a humanidade, inclusive para a agricultura. E, não menos importante, o que seria a cultura gaúcha sem os campos do pampa?

Não há o que comemorar no Dia do Bioma Pampa. Mas é um momento para refletir sobre o caminho a seguir para garantir um futuro com qualidade para as próximas gerações. A pesquisa científica evidencia as consequências dramáticas que as mudanças do clima e do uso da terra terão para a humanidade. A ciência também demonstra os benefícios de uma economia mais sustentável. Por exemplo, a produção de carne de qualidade sobre os campos nativos, prática tão simbólica para o bioma pampa, é não apenas compatível com a conservação da biodiversidade, mas também pode contribuir para o sequestro de carbono no ecossistema. Esse tipo de sinergia será a base para economias bem-sucedidas no futuro. 

GERHARD OVERBECK E VALÉRIO PILLAR

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