sábado, 26 de setembro de 2020



26 DE SETEMBRO DE 2020
ARTIGOS

SUICÍDIO E ESPIRITUALIDADE

Para uma aproximação séria e competente às questões acerca da conduta contemporânea autodestrutiva, concentradas no fenômeno do suicídio, faz-se necessário um amplo enfoque interdisciplinar, sem o qual toda análise ou discurso sobre o problema se revelará deficitário e ingênuo. Nessa abordagem ampla, há um lugar de destaque para a fé e a espiritualidade. A espiritualidade é um eficaz recurso no processo de ressignificação de uma vida que perdeu o sentido e tende ao risco suicida.

O ser humano é um ser aberto ao infinito; deseja sempre ir além, sente radical necessidade de transcender este mundo que passa. Esse "senso espiritual" pode ser um dos principais motivos que possibilitam à pessoa superar situações determinantes de crise, sofrimento, angústia, depressão e desespero.

Para prevenir, é preciso "cuidar". No caso específico do comportamento suicida, é necessário cuidar da dor, isto é, recompor uma visão integral da pessoa, que a prepare para enfrentar e administrar situações inevitáveis de sofrimento.

A espiritualidade não pode negar a dor, a perda e a frustração. Mas pode ajudar a revisar os conceitos impostos pela sociedade sobre essas condições, que são inerentes à vida humana. Para isso, é necessário libertar-se do mito da atual sociedade, quando apregoa que só vale a pena viver se há garantias de ter, poder e aparecer. Nega-se toda dor e espera-se o máximo de um prazer duradouro. As provações da vida, contudo, possibilitam a purificação de ilusões sobre a existência. Elas podem mostrar o que realmente tem valor na vida; de forma extremamente eficaz, elas ajudam a discernir o que é secundário e o que é essencial.

Somente a esperança no futuro pode devolver o sentido perdido, talvez, num presente de extremo sofrimento. A fé abre as portas do tempo presente ao futuro, à vida que há de vir. Na vida, tudo passa, até mesmo a dor e o desespero. Também a presunção e a frustração têm vida curta. Enquanto se tem vida, há esperança!

LEOMAR BRUSTOLIN

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