19 DE SETEMBRO DE 2020
FARINGITE POR ESTREPTOCOCO
O estreptococo do grupo A é responsável por 20% a 30% das faringites nas crianças e por 5% a 15% dos casos em adultos. Além de provocar uma doença aguda que evolui com febre e dor de garganta, a faringite por estreptococo está associada a complicações pós-infecciosas, como a glomerulonefrite que compromete a função renal e a febre reumática, que além de dores articulares, deforma as válvulas cardíacas.
Os sintomas de faringite geralmente são de início abrupto: dor de garganta, febre alta, calafrios, dores musculares e dor de cabeça. Nas crianças mais novas, podem surgir dores abdominais, náuseas e vômitos. Algumas vezes, aparece uma vermelhidão na pele, que poupa a face, fica mais intensa nas dobras de pele e chega a descamar na fase de convalescença, quadro que recebe o nome de escarlatina.
A dor costuma ser mais forte de um dos lados da garganta. Quando é intensa a ponto de impedir a deglutição e instala-se de um só lado da faringe, faz suspeitar da existência de abscesso no local, principalmente quando o quadro já tem diversos dias de evolução.
Tosse, coriza e conjuntivite associadas à dor de garganta não são sintomas típicos da faringite por estreptococo; quando presentes, sugerem infecção por vírus. A febre costuma durar três a cinco dias, e a dor de garganta diminui gradativamente de intensidade até desaparecer depois de uma semana.
O diagnóstico clínico é feito com base nos seguintes sinais e sintomas: temperatura acima de 38ºC, ausência de tosse, presença de linfonodos (gânglios) aumentados, amolecidos e dolorosos no pescoço, aumento do volume das amígdalas ou presença de uma camada esbranquiçada na superfície delas (exsudato). A confirmação laboratorial é obtida a partir da cultura da secreção local, colhida por meio da raspagem das amídalas com cotonete ou espátula. Como o tempo que o estreptococo requer para crescer em cultura é de pelo menos um a dois dias, existe um teste rápido que identifica certas proteínas da bactéria em alguns minutos.
Se a doença é autolimitada na maioria dos casos, vale a pena tratá-la com antibióticos? Embora a antibioticoterapia não afasta a possibilidade de glomerulonefrite, existem outras vantagens no tratamento. Estudos realizados já nos anos 1950 demonstraram que o uso de antibiótico reduz a incidência de febre reumática, a principal causa de comprometimento das válvulas cardíacas, principalmente em países como o nosso. Uma análise conjunta de nove desses estudos (metanálise) mostrou que a administração de penicilina por via intramuscular diminui a incidência de febre reumática em 80%, quando comparada à ausência de tratamento.
Os antibióticos reduzem o risco de formação de abscessos purulentos na faringe e nas amídalas e o aparecimento de otites médias. Além desses benefícios, há o da erradicação da bactéria. Sem nenhum tratamento, em 80% dos casos o estreptococo persiste na faringe por até seis semanas. Essa característica da infecção tem implicações importantes na transmissão, especialmente entre crianças em idade escolar. Quando a criança recebe antibiótico, as culturas se tornam negativas em 24 horas, período depois do qual estará autorizada a retornar à escola. Os antibióticos também encurtam a duração dos sintomas, principalmente quando administrados nas primeiras 24 horas.
A penicilina é o antibiótico de escolha. Na forma oral deve ser administrada durante 10 dias. A preparação injetável por via intramuscular de penicilina benzatina tem a vantagem de ser barata, aplicada em dose única e proporcionar níveis sanguíneos duradouros, adequados para a erradicação do estreptococo.
Se por alguma razão a penicilina não puder ser utilizada, existem outras opções: cefalosporinas, clindamicina, azitromicina, etc. O tratamento deve ser mantido por dez dias, com exceção da penicilina benzatina (dose única) e da azitromicina (apenas cinco dias).
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