28 DE SETEMBRO DE 2020
DAVID COIMBRA
Médicos que conhecem o mal, não a cura
Sei exatamente o que faltou ao Grêmio no jogo de sábado à noite. Sei o que o time teve no Gre-Nal e não teve contra o Atlético Mineiro. Foi o seguinte:
Eu. Eu não escrevi nenhuma crônica criticando o Grêmio e, assim, os jogadores ficaram sem o que ler no vestiário, seus brios não foram titilados, eles não encontraram motivação suficiente para a partida e foram derrotados miseravelmente. Foi 3 a 1, poderia ter sido mais.
É verdade que Paulo Victor falhou em dois dos três gols, é verdade que Matheus Henrique atravessa uma crise técnica pantanosa, que o faz useira e vezeiramente perder a bola na intermediária e patrocinar o contragolpe do adversário, é verdade que Lucas Silva não atingiu o mesmo nível de concentração do clássico, tudo isso é verdade, mas a falência do time foi mais de comportamento coletivo do que das individualidades. O Grêmio, de novo, não incomodou o adversário, deixou o Atlético jogar. No Gre-Nal, o time marcou no campo de ataque, impediu o Inter até de respirar e se assenhorou da partida. Em Minas, o time foi de novo molenga e sem coordenação, todo desconjuntado, como tem sido na maior parte do ano.
Do jeito que o Grêmio está, só mesmo com superação, com dose extra de vontade. Terei de providenciar outras crônicas.
Quanto será que devo cobrar pelo meu trabalho de coach?
Assisti ao jogo do Inter da minha casa, e o Potter, da casa dele. Aos 18 minutos do primeiro tempo, Moisés recebeu a bola livre pelo lado esquerdo e entrou na área com autoridade de conquistador, como se fosse Maomé II devassando as muralhas de Constantinopla. Alguma coisa importante ia acontecer. Aí ele se atrapalhou com as próprias pernas, a bola bateu no pé que não deveria bater e escorreu melancolicamente pela linha de fundo. Fiquei imaginando a cara do Potter ao ver aquele lance, já que ele é um analista severo das atribuições que cabem aos laterais-esquerdos.
Mandei uma mensagem para ele perguntando se havia quebrado algo em casa e, assim que terminei de enviá-la, Moisés recebeu a bola de novo na mesma posição, só que enquadrou o corpo com graça, como se fosse uma Gisele, e cruzou na testa de Thiago Galhardo: gol.
Mandei outra mensagem ao Potter, dizendo que Moisés se redimira, e não é que, enquanto conversávamos, ele não tomou a bola outra vez e mandou um chute torto em direção à avenida, o que me fez temer pela integridade física de um dos velhinhos do Asilo Padre Cacique? O Potter comentou:
"Pronto, ele já voltou ao normal".
Depois do jogo, Coudet deu entrevista comentando não especificamente a respeito de Moisés, mas a propósito da qualidade do grupo do Inter em geral. Segundo ele, não há recursos suficientes para jogar o Campeonato Brasileiro e a Libertadores ao mesmo tempo.
Duas horas depois, a 1.725 quilômetros de distância, Renato fez um comentário parecido, para justificar a derrota do Grêmio: "É o preço de se jogar duas competições".
Quer dizer: ambos os treinadores identificam o problema. Nenhum dos dois apresenta soluções. É como o médico que diagnostica o mal, mas não sabe ministrar a cura. O doente não tem esperança de salvação, mas sabe do que está morrendo. Não sei se é uma compensação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário