12 DE SETEMBRO DE 2020
ESPIRITUALIDADE
O DESABROCHAR DA FLOR
A maneira comum de falar e de pensar é que na primavera as flores desabrocham. Se pudermos considerar que o desabrochar da flor é a primavera, saímos do pensamento comum e adentramos a mente desperta. É uma diferença sutil e ao mesmo tempo profunda.
Setembro, no Hemisfério Sul, é geralmente o mês das flores. Aqui, no templo Tenzui Zenji de SP, há um ipê amarelo - o símbolo do Brasil.
O ipê amarelo desabrochou uma, duas três flores. Logo ficou em plenitude. Agora essas mesmas flores estão murchando. O chão se cobre por um tapete dourado.
Setembro amarelo - setembro de vida se reproduzindo incessantemente. Setembro do não suicídio.
Gente, não há nada pelo qual matar e ou morrer. Há muito pelo que viver.
Se você ainda não vê a luz no final do túnel, é porque não chegou ao meio do túnel. Talvez tenha até chegado, mas pode haver uma curva e você ainda não vê a solução, a saída dos seus temores, desamores, exclusões, desrespeitos, tristezas.
Há muita tristeza no mundo e também há muitas alegrias. Quem conhece a satisfação é feliz mesmo sem ter posses, amores, sucessos, empregos, propriedades, fartura de alimentos e bebidas, sexualidade, reconhecimentos e muita dormida.
Buda dizia que há cinco desejos que nos impedem de adentrarmos o estado de satisfação plena. Todos ligados à nossa individualidade, a um eu que quer mais e mais, que precisa ser reconhecido, amado, aprovado, incluído. A falsa noção de separatividade. Somos um só corpo e uma só vida.
Quando vamos além dos apegos e das aversões, quando nos tornamos dourados com a luz dos ensinamentos, quando abandonamos os apegos e os desejos, as aversões e as repulsas - tanto do corpo quanto da mente , quando nos reconhecemos em cada partícula e no todo, despertamos e sentimos prazer na existência.
Mesmo que não tenhamos promoções nem medalhas, brindes ou prêmios especiais, empregos ou perspectivas de trabalho futuro, podemos nos tornar uma das pétalas da flor de um ipê amarelo, que suavemente se desdobra e parece nos dizer:
Sou a primavera. Sou a luz e a sombra, o sol e a lua, o dia e a noite. Sou o resultado de milhões de anos de tradição sendo transmitida de um ipê a outro ipê. Sou a vida.
E, mesmo quando o pequeno botão se torna flor dourada, e mesmo quando murchar e cair, continuará anunciando a vida.
Não se apresse em murchar. Você murchará, com certeza. Não arranque botões e flores com ciúmes e invejas, raivas e rancores. Estes terão seu tempo de surgir e de desaparecer, mas a vida continuará.
Admire, seja, penetre esse amarelo dourado das riquezas incomensuráveis. Sorria.
A pandemia ainda está nos assolando. Mantenha distanciamento social e se puder, isolamento. Use máscara, lave bem as mãos. Proteja a si e a todos.
Lembre-se: você é a primavera. Você é o som das águas dos rios e a forma das montanhas.
Viva com plenitude. Aprecie sua vida. Aguarde a luz. Ela está sempre presente. Basta que você desenvolva a paciência e a resiliência. Desenvolva a capacidade de ver, ouvir, perceber, sentir que entre dores e perdas, ganhos e lucros, intersomos, coexistimos com todas as formas de vida e podemos encontrar satisfação na existência.
Como? Primeiro passo: respire conscientemente. Mãos em prece.
MONJA COEN
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