terça-feira, 7 de março de 2017



07 de março de 2017 | N° 18786 
DAVID COIMBRA

Marchezan está certo. Os professores estão errados.

A mudança que Marchezan propõe não causa nenhuma alteração traumática na rotina das escolas, pode ser implantada com facilidade, mas a reação dos professores é despropositada.

Para quem não sabe do que se trata: o prefeito quer que os professores fiquem mais tempo com os alunos em sala de aula. São 15 minutos a mais de aula por semana para o professor, o que resulta em três horas e 45 minutos a mais para o aluno. Para o professor, pouco; para o aluno, muito.

Para alcançar esse resultado, as escolas não podem mais dispensar os alunos às 10h nos dias de reunião pedagógica semanal. Os alunos, agora, têm de ficar com um professor substituto durante as reuniões.

Parece razoável. Fui aluno, minha mãe foi professora, meu filho é aluno, conheço algo dos sistemas de educação do Brasil e dos Estados Unidos, e nunca tive notícia dessa necessidade de as escolas cortarem meio dia de aula todas as semanas. Sempre tive aula de segunda a sexta, às vezes sábado, no mínimo das oito ao meio-dia, não raro tendo de voltar à escola à tarde para a educação física. Por que não pode ser assim nas escolas municipais de Porto Alegre?

Nós brasileiros vivemos reclamando da falta de atenção do poder público com o ensino. Quando um dirigente apresenta uma ideia que pode melhorar a situação, a resposta é birrenta. Dá a impressão de que o único problema da educação é o salário dos professores. Pague R$ 10 mil por mês para cada professor e o Brasil estará salvo.

Não é assim. O prefeito não tem apenas o direito de mudar os horários dos professores, tem obrigação de fazê-lo, se é algo compatível com o programa que apresentou nas eleições.

Você, assalariado, decide os horários da empresa em que trabalha?

Os professores poderiam perfeitamente aceitar a mudança e colaborar para que fosse aperfeiçoada. Mas, não. O que há é manha.

O brasileiro se tornou um povo manhoso. Até com certa razão. O professor e o policial se queixam de que ganham pouco, e ganham pouco mesmo. O cidadão tem medo de sair à rua. Os filhos do trabalhador recebem educação precária. O pobre que depende do SUS não consegue marcar consulta. O salário do aposentado diminui a cada mês. Os governantes estão envolvidos em escândalos de bilhões. Tudo é ruim e difícil. Isso cria um clima reativo. As pessoas estão sempre armadas, sempre prontas a se defender da realidade que as amassa e do próximo em geral mal-intencionado.

Uma das maiores surpresas que tive, ao me mudar para os Estados Unidos, foi deparar com a paciência do americano diante de um inconveniente. Ele espera na fila sem protestar, ele ouve o não sem resmungar, ele não briga com o funcionário. Ele simplesmente aceita. Por ser passivo? Não: porque não espera estar sendo enganado.

O brasileiro é enganado todos os dias. O logro é a regra. Assim, o brasileiro se sente uma vítima e olha com desconfiança para o que parece pairar acima dele, seja o chefe, seja o Estado, seja a elite branca e insensível. O brasileiro se torna paranoico, irritado, exigente... e manhoso.

Os professores são uma categoria sofrida. Os professores são fundamentais para a sociedade. Por isso, eles têm muito a exigir. Mas por isso, também, há o que se exigir deles. Se não for sacrifício, pelo menos que seja boa vontade.

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