sexta-feira, 10 de março de 2017


10 de março de 2017 | N° 18789 
DAVID COIMBRA

Brasileiros no show do Sting

Fui ao show do Sting, na House of Blues, de Boston, casa bem parecida com o Opinião, de Porto Alegre.

Havia comprado ingressos para o mezanino, imaginei que fosse ótimo lugar, mas, quando eu e a Marcinha chegamos lá, constatamos que seria difícil ver o show. As pessoas ficavam de pé, em frente a um parapeito, e todos os espaços estavam tomados.

A banda que faria a abertura começou a tocar, e nós não conseguíamos nem espiar o palco. Olhei para a pista, lá embaixo. Estava melhor.

– Vamos tentar? – propus. – Vamos. Fomos.

Descemos as escadas, mas, no térreo, um funcionário nos barrou. Nosso ingresso era para o segundo piso, e pronto. Voltamos para o mezanino. O Sting já estava entrando.

A Marcinha apontou para o andar de cima, que era bem amplo e tinha até cadeiras. – Vou tentar chegar lá. Se conseguir, te mando uma mensagem. Aprovei o plano. Ela foi e fiquei com o celular na mão. Em um minuto, a tela brilhou com o código combinado: “A águia pousou!”.

Fui. Mas, ao me aproximar da porta, percebi que uma funcionária ia me interceptar. Usei o truque dos jogadores de futebol: levei o celular à orelha e fiquei falando. Lembrei, também, que a longa experiência na noite me ensinou a não olhar nos olhos de malucos, bêbados e seguranças. Foi o que fiz. Não olhei para ela, ela falou alguma coisa e segui firme, dizendo “Oh, my God!” ao celular.

Passei!

Lá estávamos nós, em um canto perfeito para assistir ao show, ao lado de umas cadeiras. Como é que ninguém tinha ido para aquele lugarzinho tri? É que os americanos são muito comportados. O que pode ser excelente para a ordem e o progresso, mas deve ser frustrante para um artista. O Sting cantava, eles aplaudiam e tudo mais, às vezes assobiavam ou faziam urru, mas jamais com a empolgação que teriam brasileiros ou argentinos.

– Esses americanos são desanimados – comentou a Marcinha.

Nisso, um casal se postou bem ao nosso lado. Estranhei. Americanos não iriam para um lugar não convencional. Aí a moça veio falar conosco e disse que era paquistanesa. Óbvio. Ela começou a dançar e a jogar os braços para cima e pensei: ela está chamando atenção, daqui a pouco vão nos tirar daqui.

Em um minuto, veio um segurança: – Aqui não pode.

Maldição. Arranjamos outro cantinho, só que não tão bom. Então, vi aquelas duas poltronas. Ficavam no meio das fileiras de assentos, em frente ao palco, sem ninguém na frente. E estavam desocupadas!

– Olha ali! – disse para a Marcinha. – O melhor lugar!

– Vamos? Fomos. Assistimos ao show espetacularmente bem. Pedi uma Blue Moon gelada. Olhei para a Marcinha. Sorri:

– O melhor lugar! Ela sorriu de volta:

– O melhor lugar! Talvez não tenha sido algo rigorosamente lícito, mas, ora, para quem discute se é certo ou não o caixa 2, é mais do que legítimo. Ser brasileiro também tem suas vantagens.

Ontem escrevi sobre a casa amaldiçoada de Brookline. Leitores pediram que publicasse a foto. Ei-la. Digam suas impressões. É ou não mal-assombrada?

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