31 de março de 2017 | N° 18807
NÍLSON SOUZA
O PARADOXO DE PINÓQUIO
Amanhã é 1º de abril, dia dos bobos para alguns, dia da mentira para todos. Deveria ser uma data em extinção. Não há mais um só dia para a mentira. Talvez nunca tenha havido. A internet e as redes sociais apenas tornaram mais visível e compartilhável essa tendência que todos temos de aumentar um ponto nos nossos contos.
A psicologia é implacável no seu diagnóstico: todos mentimos, ainda que tenhamos dificuldade em admitir isso. Mentiras sociais, na maior parte dos casos. Você está cheio de problemas, mas não hesita em responder ao vizinho que o cumprimenta:
– Tudo bem! Pronto, mentiu.
Você leva o filho para vacinar e garante, com o coração apertado:
– Não dói! Depois, quase chora junto com a criança.
São inúmeras as situações em que dizemos aquilo que não pensamos para garantir as boas relações sociais. Normalmente são afirmações que não fazem mal a ninguém, não causam prejuízos a outras pessoas, mas que, a rigor, não são verdadeiras. Mentirinhas, portanto, nada que se possa comparar com as mentiras maldosas que ferem, causam danos e ocultam crimes.
Mente-se, também, por ingenuidade. Pessoas que acreditam em tudo o que ouvem ou leem muitas vezes repassam inverdades sem perceber que estão contribuindo para a disseminação de boatos. Há, evidentemente, os que adoram uma teoria da conspiração. Esses até têm consciência de que determinada notícia pode não ser verdadeira, mas, quando serve a seus propósitos e a suas ideias, preferem legitimá-la a questioná-la. Fica a impressão de que a socialização da mentira dilui a culpa de quem a propaga.
Mente-se, ainda, por brincadeira, mentirinha de amizade, tolerável e perdoável, até mesmo porque costuma ser seguida da verdade reveladora.
Por fim, mente-se para enganar, destruir, ferir, ludibriar, roubar – e essa mentira criminosa, infelizmente, é tão frequente, que não cabe num único dia.
Mas o assunto não se esgota aí. Como ensina a Legião Urbana numa de suas canções, mentir para si mesmo é sempre a pior mentira.
E aí caímos no célebre Paradoxo de Pinóquio. Se admitirmos que todos mentimos, estaremos falando a verdade ou mentindo?
Parabéns para nós neste 1º de abril!
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