11 de março de 2017 | N° 18790
CARPINEJAR
Educado sempre
As redes sociais destruíram com a etiqueta de só falar mal pelas costas. Era uma regra cavalheiresca tão bonita. Você recebia os elogios pela frente e desconhecia o quanto era odiado em segredo. Havia o burburinho e o silêncio constrangedor, mas nada que mexesse diretamente com a sua vaidade. A vida brilhava mais gentil.
A omissão não correspondia à hipocrisia, mas ao entendimento de que a crítica não poderia virar violência. Falar mal de quem não se conhece direito deveria ser um ato privado, um voto secreto, passível de erro e de mudança de conceito. Na hora em que é público, já se torna automaticamente uma execução ou um julgamento definitivo.
Pensava-se muito antes de desqualificar alguém. Conversava-se longamente com os colegas, testando a temperatura das polêmicas, seja nos cafés, seja nas rodas de amigos. Quantas vezes mudei de opinião escutando os argumentos contrários e livrei a minha boca de sérios enganos?
Somos menos politizados e mais levianos atualmente. O Twitter, o Facebook, o Instagram e os sites de notícias foram transformados em arquibancadas de estádios de futebol, onde prosperam desaforos de baixo calão, sem o mínimo tempo respeitoso da dúvida. Privilegiam-se a instantaneidade e a interação raivosa. Não ponderamos que o ódio é mais rápido do que o amor, e mais superficial.
Não colhemos uma segunda ou terceira opinião. Somos desinformados por beber e acreditar numa única fonte. Será sede de saber ou pressa para aparecer?
Gremistas odeiam colorados e vice-versa, petistas odeiam peemedebistas e vice-versa, e as sutilezas da elegância são soterradas na militância da truculência. Uma coisa é fazer piada, com a inteligência da insinuação, outra é escancarar o pulmão em injúrias e difamações. Uma coisa é dizer que não se gosta de algo ou de uma figura, outra coisa é atacar a vida pessoal. Palavras não desaparecem em bolhas de ar, têm a eternidade digital dos feeds.
Esquecemos que personalidades são também pessoas comuns, com filhos e pais que acompanham os comentários. Será que era necessário dizer que ele é um... ou uma...., apenas a partir de impressões do momento ou cores sectárias?
Não creio na grosseria. Prefiro falar mal pelas costas até que se prove o contrário a falar mal na frente e ser obrigado a provar o que não tenho certeza.
A justiça é melhor do que a retratação. Quando recebo grosserias, respondo com a firmeza dos meus bons modos. Jamais abdico dos princípios herdados em família. Não entro na mesma frequência. Não perco a compostura. A minha mãe é que me ensinou esta lição: se o outro não merece a minha educação, eu mereço ser educado sempre.
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