sábado, 18 de março de 2017


18 de março de 2017 | N° 18796 
MARTHA MEDEIROS

Tem homem no mercado

Aconteceu há algum tempo no Rio. Uma mulher colocou um anúncio classificado no jornal em busca de um homem que fosse disponível, hétero e que ganhasse ao menos dois mil reais por mês. Se era piada, funcionou, porque gerou boas gargalhadas. Esta mulher solteira procura não reivindicou honestidade, inteligência, bom humor ou conhecimento geral resumiu-se ao básico do básico. Que o produto não tivesse compromisso com ninguém, que gostasse de mulher e pagasse suas próprias contas.

O que significa que o que sobra por aí é justamente o oposto. A comunidade gay só aumenta. Se o candidato for surpreendentemente hétero, é provável que tenha alguma namorada escondida na manga. E se for hétero, livre e desimpedido, maravilha – mas talvez não tenha grana nem para um pastel de vento, vai encarar?

Vai. Porque o que mais se propaga por aí é a frase “Não tem homem no mercado”, e a mulherada que, como se sabe, não faz outra coisa na vida a não ser se dedicar às pesquisas no súper, se apavora e acaba aceitando qualquer promoção. Homem duro? Serve. Homem casado? Serve. Homem que mora com a mãe aos 45 anos? Serve. Sendo homem, serve.

Até que o cenário piora: é bandido? Serve. Desrespeita você? Serve. Bate em você? Serve. Aí a mulher morre nas mãos desse delinquente e ninguém entende.

Vamos dar um rewind? Começando por parar de divulgar essa ameaça boba de que não tem homem no mercado. Tem, sim. Tem um monte de homem solteiro, separado e viúvo que sonha em encontrar uma mulher madura, companheira e independente. É verdade que há mais mulheres no mundo do que homens, a vantagem é deles, mas apostar no desabastecimento das gôndolas é o caminho mais curto para fazer bobagem. Você acaba se contentando com o que sobrou no fundo da prateleira, já com o prazo de validade vencido.

Quando vemos um homem sem mulher, pensamos: é porque ele não quer uma.

Quando vemos uma mulher sem homem, pensamos: é porque nenhum deles a quis.

Se insistirmos nessa mentalidade medieval, continuaremos propensas a aceitar qualquer carne de pescoço que se passe por filé. Não há por aí quem diga que somos especialistas em detectar os desajustes de ofertas? Então, vamos tratar de pesquisar bem e levar coisa melhor pra casa.

“Quando vemos um homem sem mulher, pensamos: é porque ele não quer uma. Quando vemos uma mulher sem homem, pensamos: é porque nenhum deles a quis”

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