quarta-feira, 22 de março de 2017



22 de março de 2017 | N° 18799 
DAVID COIMBRA

As mulheres russas

Mulheres russas. Basta escrever essas duas palavras, sem complementar, sem colocar nem sequer um só verbo, para deixar o leitor especulando.

Com carradas de razão. Ocorre que as mulheres russas gozam da boa fama de serem lindas e insinuantes e cálidas, e isso vem de longe.

A antiga czarina Elizabeth, ou Isabel, que reinou entre dois grandes, Pedro, “o Grande”, e Catarina, “a Grande”, essa Elizabeth o que tinha de grande era a sua beleza. Destacavam-se nela, além do rosto lindíssimo, as pernas.

Naquela época, meados do século 18, as mulheres não exibiam as pernas nuas como hoje. A abençoada inglesinha Mary Quant ainda não havia inventado a minissaia, e as moças tinham de se submeter a repolhudos vestidos montados com armação de metal, parecidos com os que as rainhas das cidades do interior do Brasil usam hoje nos festivais de tubérculos, embutidos ou tantos outros alimentos produzidos neste imenso país agropecuário.

Como, então, as pernas de Elizabeth se tornaram célebres, se eram clandestinas?

De duas formas. Uma, devido à indiscrição dos muitos homens que partilharam com ela o leito real e angariaram o prazer de ver aquelas pernas longas, torneadas e macias como a neve de São Petersburgo; outra, porque a própria dona das pernas, orgulhosa de sua graça, deu um jeito de mostrá-las com um estratagema ardiloso. 

Este: como as calças masculinas de então eram apertadas e permitiam a visão do contorno das pernas, Elizabeth passou a promover festas travestis. Os homens eram obrigados a se vestir com roupas femininas e as mulheres eram obrigadas a se vestir com roupas masculinas. Assim, aqueles vetustos nobres russos ficavam ridículos, mas Elizabeth podia entrar em calças justíssimas e se exibir pelos salões, provocando comentários admirados:

– Viu as pernocas da rainha? Mas, se você acha que Elizabeth era bonita, precisava ver a irmã dela, a princesa Ana. Os homens ficavam mesmerizados quando a encontravam. O embaixador da Prússia a descreveu assim:

“Não acredito que haja na Europa uma princesa que possa competir com a princesa Ana em beleza e majestade. Ela é morena, mas com uma pele vividamente branca. Suas feições são tão perfeitamente belas que um artista consagrado, julgando-a segundo os mais rigorosos padrões clássicos, nada mais desejaria. Mesmo quando está em silêncio pode-se ler a magnanimidade e a amabilidade de seu caráter em seus olhos grandes, lindos. Seu comportamento não tem afetação, ela é sempre a mesma, e mais séria do que alegre. Desde a juventude tem se dedicado a cultivar a mente. Fala francês e alemão com perfeição”.

Uau! 

Essa louvação foi escrita há quase 300 anos. De lá para cá, a genética russa só tem evoluído, graças aos evidentes benefícios da miscigenação, gerando beldades como Yelena Isinbayeva, Maria Sharapova e Natalia Vodianova, aquela modelo que causou fremente polêmica ao proferir uma frase que, a mim, pareceu singela:

“É melhor ser magra do que ser gorda”. E é. Não é?

Claro que sim, senão por motivos estéticos, pelo menos por questões de saúde, e não vá me chamar de gordófobo, até porque eu mesmo, confesso, tenho de perder uns três ou quatro quilos.

Mas voltemos às mulheres russas. Pensei nelas, e na Rússia, por causa de algo que o Zé Pedro Goulart me disse, outro dia. Mas já escrevi em demasia, terei de contar mais amanhã. Seja paciente, espere um pouco. Ou pergunte o que é para o Zé Pedro.

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