sexta-feira, 24 de março de 2017


Jaime Cimenti

Feliz Porto Alegre! 

Porto Alegre é demais, está de aniversário e acaba de ganhar um presente gigante: a reforma e ampliação do aeroporto Salgado Filho. Que venham os alemães, aumentem a pista e facilitem os voos para as oktoberfests e para o resto do planeta. Wunderbar! Parabéns! Zum geburtstag viel glück - Portinho cervejeira e alemãzinha! 

Uns porto-alegrenses aí, bem, tipo assim, porto-alegrenses, gostam de dizer que Porto Alegre é um bom lugar para voltar. Verdade. Viajar, andar pelo mundo com planos ou sem destino, com malas e sem malas, é quase sempre ótimo. Mudar a paisagem da solidão, como disse o Quintana, e sentir-se outros, reinventar-se. Bom, normal. Voltar para a casinha, para o velho travesseiro, para os parentes do bem e os amigos, idem. Isso é mais velho que andar a pé ou que a Sé de Braga. 

É do tempo que se amarrava cachorro com linguiça. Porto-alegrenses viajam, se divertem, protagonizam - internacionalmente - feitos relevantes em plagas distantes, gastam bastante em restaurantes e hotéis no exterior ou em outros estados brasileiros sem reclamar muito e trovam, cantam e dançam por este mundo de Deus. 

No amargo ou no doce regresso, quando o avião vai sobrevoando o belíssimo Delta do Jacuí (a oitava maravilha do mundo, segundo alguns bairristas) e a gauchada enxerga a ponte do Guaíba, aí a coisa muda. Muitos fecham a cara, ficam carrancudos e voltam para o clima de Portinho, a açoriana ainda meio tímida, séria, meio bicuda, mas também meio simpática e malandra. 

Se a volta não for em abril ou outubro, os únicos meses de clima realmente bom por aqui, e lá fora a chuva forte guasqueada estiver embolada com os ventos que parecem chicotes de feitor de escravos, a cerração e o frio, aquele de renguear pinguim, bom, aí o bicho pega. Aí até temos motivos para fazer aquele carão de caranguejo bravo, pronto para as peleias variadas que enfrentamos há séculos com os estranjas e entre nós. Não faz muito, as finanças da cidade eram superavitárias; agora, a capital está endividada até o pescoço da girafa. Tomara que a gente saia limpo do atoleiro, como disse o outro. 

De preferência, sem ter que pagar, para variar, mais e mais impostos. Pagar imposto e morrer, as únicas certezas futuras...Os governos sabem bem disso. Precisamos todos, juntos, dar um jeito de fazer Porto Alegre sorrir de novo. Caso contrário, muitos vão embora, e aí a capital não será mais o lugar bom de voltar. Precisamos de união, de diálogo pacífico e produtivo. Não é fácil, mas vamos acreditar que não seja impossível, vai. 

É o que temos para hoje. Temos de entender que, se a gente não se entender, os outros, os de fora, vão tomando conta cada vez mais, e a gente sabe que não é fácil ter que comer pelas mãos deles. Nada de bairrismo estéril e anacrônico num mundo globalizado, mas tudo a favor de melhores conversas entre nós, tantas vezes caranguejos dentro do mesmo balde. Vamos costurar e erguer uma bandeira azul e vermelha, e aí seguiremos com nossos feitos relevantes, em plagas distantes... a propósito... Torço para que sejam desarmados os criminosos, para que a população não precise andar armada. 

Torço para menos baganas de cigarro e lixo de vários tipos jogados nas ruas e nos arroios, entupindo nossos bueiros. Torço para cercamento em alguns locais, em alguns parques, como já temos em alguns casos, com bom resultado. Torço para que a gente limpe o Guaíba, pare de aterrá-lo tanto, e torço para que nosso cais finalmente deixe de ser encalhado e possa ser local de negócios, lazer e caminhadas de amigos, pais e filhos. 

Torço pelo Inter, mas não quero mal ao Grêmio, que tantas vezes valoriza, com garbo e competência, nossas vitórias nos Grenais. Coirmãos sim, inimigos não. Falei coirmão e não corrimão, como dizem uns metidos a engraçadinhos que andam por aí. Eu pego eles! ( - Jornal do Comércio 

(http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/03/colunas/livros/553067-o-imperio-romano.html)

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