sexta-feira, 24 de março de 2017



24 de março de 2017 | N° 18801
NÍLSON SOUZA

    PORTO DE TODOS

    Minha aldeia, cidade adotiva de Erico Verissimo, tem uma orquestra sinfônica (que não tem sede própria, mas, pelo menos, já ganhou um espaço para ensaiar).

    Minha aldeia, que também adotou Paixão Côrtes, tem um colosso de bronze a guarnecê-la com o seu laço de 12 braças (encurtado para não pesar muito, pois o dono anda meio estropiado pelo tempo, mas já está recebendo curativos).

    Minha aldeia tem um jardim botânico com todos os tons de verde que te quero verde (ainda que constantemente ameaçado pelo cinza da crise, da insensibilidade e da ganância).

    Minha aldeia tem um rio (que é o rio mais belo que corre pela minha aldeia porque é o rio da minha aldeia e, como Fernando Pessoa travestido de Alberto Caeiro, eu sei para onde ele vai e de onde ele vem).

    Minha aldeia tem uma ponte sobre o seu belo rio (que sobe para passar o navio e desce para os motoristas de automóveis e caminhões escaparem dos arrastões).

    Minha aldeia tem uma usina de cultura com uma chaminé que alcança as nuvens, quase o céu de Mario Quintana (Ó céus de Porto Alegre, como farei para levar-vos para o céu?).

    Minha aldeia tem um mercado de cheiros, especiarias e histórias (que resiste bravamente a incêndios, pichações e restaurações).

    Minha aldeia tem um charmoso chalé europeu (cenário encantado de velhos namorados e assombrado pelos fantasmas dos lambe-lambes que ainda habitam o seu redor).

    Minha aldeia tem uma Redenção no seu coração (além do Marinha, do Parcão e de muitos outros espaços para o bate-papo e o chimarrão).

    Minha aldeia tem um teatro com th, galerias e um lustre de cristal (abençoado pelo padroeiro do Estado e muito bem cuidado pela dona do espetáculo).

    Minha aldeia tem um brique dominical e uma feira só de livros (onde se encontram com o distinto público artistas, artesãos, editores e escritores).

    Minha aldeia tem dois templos de luxo para a bola (que rola em vermelho e azul nesta capital do eterno Gre-Nal que divide e une o povo gaúcho).

    Feliz aniversário, cidade do meu andar, de todos os andares, de todos os nativos e visitantes que te fazem tão humana e aconchegante.

Nenhum comentário: