sábado, 4 de março de 2017



mariliz pereira jorge
04/03/2017  02h00

Você torceria por um criminoso?

Por causa da coluna da semana passada, sobre a decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello de soltar o ex-goleiro Bruno, leitores questionaram minha indignação pelo interesse de alguns clubes de contratá-lo. Perguntam se uma pessoa não deveria ter a oportunidade de voltar ao trabalho depois de ser reabilitado. De fato, as cadeias estão cheias de ladrões de galinha, que merecem uma segunda chance, mas que estão presas há mais tempo do que Bruno e provavelmente continuarão por lá.

Particularmente, não acredito em reabilitação de gente que corta o marido com uma motosserra e coloca dentro de malas ou que é, no mínimo, conivente com quem pica uma garota e dá para os cachorros comer, dilui o corpo em ácido ou seja lá o que fizeram com o cadáver de Elisa Samudio.

Não dá para acreditar na reabilitação de alguém que foi condenado a 22 anos e três meses, ficou menos de 1/3 do tempo preso, saiu da cadeia e a primeira declaração foi: "Independente (sic) do tempo que eu fiquei também, eu queria deixar bem claro, se eu ficasse lá, tivesse prisão perpétua, por exemplo, no Brasil... não ia trazer a vítima de volta".

Bruno, que sempre alegou inocência, não lamentou pela morte de Elisa, pela criança que ficou sem mãe, pelo sofrimento de sua família. Bruno acha que ficar preso não muda nada. A tradução é a seguinte: o crime compensa. E compensa com a conivência da justiça. Porque se a justiça fosse séria ele ficaria trancafiado durante 22 anos.

Mas Bruno está solto, quer voltar a jogar futebol, desfila com a mulher com quem se casou ainda na prisão e já faz selfies com "fãs". Moralmente, podemos achar natural que ele volte a viver as glórias que esse tipo de profissão é capaz de proporcionar? Você torceria por um criminoso, se ele fosse contratado para jogar por seu time?

Aceitaríamos que Guilherme de Pádua, assassino de Daniela Perez, voltasse a ser ator? Ele seria aplaudido por suas atuações, faria bailes de debutantes e propagandas de empreendimentos imobiliários com sua atual mulher? Isso não aconteceu, talvez porque a classe artística seja bastante unida e jamais abriria portas a ele. Mas, pasme, Pádua tem 34 mil seguidores no Instagram, onde compartilha o seu dia a dia.

Numa postagem recente, há uma montagem com uma foto dele da época em que era ator e uma de hoje, com a seguinte legenda: "a cara de galã de novela mexicana não consegui repetir! kkk". Seguida de comentários, como "muito lindo", "tá mais gato agora", "Deus conserve sempre lindo".

Tive vontade de vomitar.

Alguém duvida que, se Bruno voltar a jogar, esse tipo de coisa aconteça em proporções maiores, ainda que haja protestos por parte do público?

Estamos falando de assassinato. Por muito menos atletas são banidos do esporte. O doping já afastou dezenas de pessoas, muitas sem direito a tal reabilitação. É fim da carreira. O que na minha opinião é uma grande injustiça porque estamos carecas de saber, mesmo que a gente faça de conta que não, que doping é uma questão de sorte. Alguns são pegos, outros, não.

Acho difícil aplaudir um atleta que passou a perna nos rivais, enganou torcedores e federações. Bater palmas para alguém condenado por assassinato simplesmente não dá. Ou dá?

Nenhum comentário: