sexta-feira, 17 de março de 2017



Felicidade 

Meio pretensioso falar de felicidade em 3.700 caracteres, mas o importante é ser feliz, e disso eu e as torcidas do mundo não abrimos mão. Tem gente que se atreveu a falar de felicidade em uma palavra ou uma frase. Há quem fale de felicidade apenas com um sorriso silencioso. Precisa mais? 

Do javali no jantar na caverna, com a família e as histórias ao pé do fogo, até os atuais infindáveis objetos de desejo e de consumo e a insatisfação civilizada freudiana, muita conversa filosófica, religiosa, sociológica, psicológica e de mesa de bar rolou e rola sobre o tema, que, claro, é subjetivo e infinito como o amor, o sentido da vida e as perguntas: 

Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Alguns filósofos gregos associaram a felicidade com aguentar firme (estoicos), outros, com virtude ou prazer e na antiga China, Lao Tse falou em união com as forças da natureza, enquanto Confúcio relacionou felicidade com dever, cortesia e generosidade. Imagina Confúcio hoje por aí! Os budistas pensam em felicidade como superação dos desejos e a atitude mental que ilumine o que nos deixa felizes ou infelizes. Cristo pensou que felicidade é o amor, enquanto que Maomé enfatizou que seria a caridade e a vida após a morte. 

Os ingleses dos séculos XVIII e XIX do utilitarismo, refletiram que a felicidade move os humanos e que os governos deviam buscar a felicidade coletiva. O positivismo francês de Comte dos séculos XIII e XIX colocou a felicidade ao lado da razão e da ciência, do altruísmo e da solidariedade. Depois vieram Marx, com a ideia de sociedade igualitária relacionada com a felicidade, e Sigmund Freud, com seu "o princípio do prazer" e a conclusão de que seremos só parcialmente felizes. 

Pois é, o mundo e as pessoas teimam em não ser aquilo que a gente imagina e quer. Einstein disse que é tudo relativo. E aí seguimos, com ideias e desejos de Pibão, inflação baixa, alta renda per capita, poucas doenças, bem-estar e sonhos de morar no Canadá, na Nova Zelândia, na Austrália ou nos países nórdicos, onde - dizem - tem mais felicidade. Sim, lá tem problemas também, rolos com imigrantes, alguns crimes e loucuras humanas. Nada, ninguém e nenhum lugar é perfeito. Pensando bem, a perfeição seria muito chata. Melhor assim, demasiadamente humanos e seres imperfeitos. 

Cuidar do corpo, da mente e do espírito, amar, ter família e amigos, trabalhar no que gosta, fazer exercícios, ajudar os outros, adaptar-se, rebelar-se, comer bem, transformar a tristeza, a depressão e as emoções ruins em coisas que prestem, como atitudes positivas, trabalho, arte, esporte e bom convívio; saber que a gente ganha a discussão não começando a discutir; sorrir e lembrar que rir é o melhor remédio; levar a sério a brincadeira, como sérias brincam as crianças; ter forte identidade étnica, pertencer a grupos mas com independência pessoal; gostar do que se é e do que se tem; ser delicado, gentil e prestativo; e, claro, buscar formas individuais e pessoais para ser feliz, que a lista da felicidade jamais será completa, são algumas dicas. a propósito... 

Ser feliz é, também, como disse a Jackie Kennedy, emagrecer alguns quilos e cortar o cabelo, especialmente se for com um cabeleireiro competente como o Marlus Lisboa, que ama sua profissão e trabalha feliz. Ser feliz é não figurar na lista do Janot e saber que o japonês da federal não vai bater na nossa porta nem por engano. 

Ser feliz é chegar em casa de noite vivo, encontrar a família viva, comer uva pensando em Bento Gonçalves, sozinho ou junto com a galera, e ouvir o Tony Bennet, a Amy Winehouse e a Lady Gaga. 

Pensando bem, mas pensando muito bem, ser feliz é quando a gente não pensa no assunto e simplesmente aproveita aqueles momentos fugazes e eternos para esquecer da morte, lembrar da vida e sorrir, sem medo do lugar-comum.  - Jornal do Comércio 

(http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/03/colunas/livros/551487-conversas-infinitas-sobre-os-classicos.html)

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