sábado, 11 de março de 2017



11 de março de 2017 | N° 18790 
ANTONIO PRATA

frases da semana

Um enorme passado pela frente

ANTONIO PRATA

Tenho absoluta convicção, até por formação familiar e por estar ao lado da Marcela, do quanto a mulher faz pela casa, pelo lar.

MICHEL TEMER

Presidente da República, em manifestação no Dia Internacional da Mulher.

Nós temos um dia, Vossa

Excelência tem todos os outros.

CÁRMEN LÚCIA

Presidente do Supremo Tribunal Federal, em resposta ao ministro Luís Roberto Barroso, que cumprimentou as damas da Corte pelo Dia da Mulher.

Quando, em meados da segunda década do século 21, os mamíferos bípedes mais conhecidos como Homo sapiens, ou ainda mais conhecidos como Claudisney, Marilu, Mohammed, Juanito da Catimbira, Xin Sun Lun, Earl Dwight, Um Dois Três de Oliveira e Quatro e por aí vai, dependendo da origem, das predileções e delírios de cada progenitor, enfim, como eu ia dizendo, quando, em meados da segunda década do século 21, os seres humanos assistiram à eleição de Donald Trump à presidência dos EUA, à disputa de nove times de futebol pelo passe do assassino Bruno e ao presidente (sic) da República (sic), Michel Temer (“sick”), no Dia Internacional da Mulher, apontando as compras de supermercado e os cuidados com o lar como a grande contribuição feminina à sociedade, muitos pensaram: cazzo, estamos voltando no tempo?

Cazzo, estávamos. Por conta de um revertério cósmico já intuído por físicos desde o início do século 20 (Lamaitre, Penzias, Wilson, Dicke, Gamow et al.), após treze bilhões e setecentos milhões de anos se expandindo, o universo perdeu o impulso que vinha lá do Big Bang e, como uma bexiga esquecida atrás da piscina de bolinhas num bufê infantil – mas que contivesse em si a própria bexiga, a piscina de bolinhas e o bufê infantil –, começou a encolher.

O que os físicos não sabiam é que, ao murchar, nesta melancólica andropausa astronômica, o balão arrastaria, além do espaço, o tempo, que passaria a correr para trás. O retrocesso foi rápido. Grafites coloridos em São Paulo voltaram a ser muros cinza. A bicicleta foi desestimulada em favor dos velhos carros, que recobraram, a 90 km/h, o direito de matar livremente nas Marginais. 

O Obamacare foi cancelado por Trump. Pelas ruas dos EUA, membros da Ku Klux Klan puderam ser vistos levando seus lençóis pra passear. A economia brasileira retornou aos números de 2010. Os russos se tornaram ameaçadores outra vez. O fisiologismo mais chão da nossa política e economia, que por 20 anos se disfarçou (mal e porcamente) detrás de tímidas reformas sociais, escancarou seus caninos de Conde Draga e, para “estancar a sangria”, os meteu na nossa jugular.

A volta ao passado foi difícil no começo: tivemos que atravessar de novo a dívida externa e os Menudos, o Plano Funaro e o Ilariê, sem falar do fascismo, do nazismo, da peste negra e do inconveniente de topar, numa segunda-feira à tarde, com o exército de Genghis Khan. 

Não foi fácil, também, nos desapegarmos das conquistas da civilização, tais como o cortador de unha, a poltrona vibratória com porta- copo, o Polenguinho de bolso. Mas depois de muito sofrermos, tendo ultrapassado Torquemada e Tutancâmon, tendo reconstruído pirâmides e cruzado o Mar Vermelho, eis que chegamos à origem dos séculos e retomamos a terra prometida. 

Nesse Éden terreno, não havia Facebook nem trabalho, buzina ou despertador, éramos todos caçadores coletores andando nus pelas florestas, tomando banho de cachoeira, comendo cajus, amêndoas e javalis. Claro que de vez em quando um de nós era jantado por um leão, mas ser jantado por um leão é um preço justo a ser pago pela liberdade, além de ser uma morte épica, muito mais bela do que ter as artérias entupidas pela gordura saturada do Polenguinho, após anos sentado numa poltrona vibratória, cortando as unhas dos pés. Regozijai-vos, irmãos: como dizia Millôr Fernandes, temos “um enorme passado pela frente”.

Acho que o Michel Temer

pegou o discurso de Dia

da Mulher que o Marechal Deodoro deixou na gaveta.

ALEXANDRA MORAES

Jornalista e quadrinista.

Muitas vezes a gente fala e ao falar também ajuda a quem pratica esses atos criminosos e que não representam toda a sociedade.

JOSÉ IVO SARTORI

Governador do Estado, alegando que

falar demais sobre violência favorece o crime.

Odeio maconha, mas sou a favor da legalização.

CAETANO VELOSO

Músico, em manifestação publicada no Instagram oficial de Paula Lavigne.

Doutor, faça concurso para juiz e assuma então a condução da audiência, mas quem manda na audiência é o juiz.

SERGIO MORO

Juiz, contrariado com a intervenção

do advogado de Antônio Palocci.

A gente sabia que o

‘Italiano’ era o Palocci.

FERNANDO SAMPAIO BARBOSA

Ex-diretor da Odebrecht, em depoimento ao juiz Sergio Moro, referindo-se ao

ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci.

E Vossa Excelência preste exame da Ordem dos Advogados do Brasil! Cada um aqui cumpre o seu papel, está certo?

JOSÉ ROBERTO BATOCHIO

Advogado, em resposta a Sergio Moro.

Todo mundo vai ficar no mesmo bolo e abriremos espaço para um salvador da pátria?

AÉCIO NEVES

Senador (PSDB-MG), sobre os efeitos da Lava-Jato no meio político.

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