sexta-feira, 17 de março de 2017



17 de março de 2017 | N° 18795 
DAVID COIMBRA

As três coisas de que o homem precisa

Em um pequeno livro de título Conselhos para um Jovem Comerciante, Benjamin Franklin escreveu sua frase mais famosa, que você certamente já ouviu e pode até ter citado, não sem antes erguer a sobrancelha e espetar o dedo em riste:

“Tempo é dinheiro”. Parece algo bem capitalista, e é. Não por acaso, o rosto de Franklin decora a querida e verde-clara nota de 100 dólares.

“Tempo é dinheiro” resume o sistema. Todos nós vendemos o nosso tempo. Ou: trocamos o nosso tempo por dinheiro.

Lembro daquela máxima que diz que o homem, para ser completamente realizado e feliz, precisa de três bens, um tangível e dois intangíveis: tempo, dinheiro e disposição.

A tragédia é que, quando ele tem tempo e disposição, não tem dinheiro; quando tem disposição e dinheiro, não tem tempo; e, quando tem dinheiro e tempo, não tem disposição.

Esse também é o resumo do debate da Previdência Social no mundo inteiro, e em particular no Brasil. As pessoas querem se aposentar quando ainda têm disposição para aproveitar o seu tempo e o seu dinheiro. O problema é que os governos, o do Brasil incluído, estão dizendo que simplesmente não dá. As pessoas estão vivendo mais tempo. Logo, é preciso mais dinheiro, e dinheiro não há.

Claro: se você faz o que gosta, esse dilema quase que cai na irrelevância. Você só aceitará deixar de fazer o que ama quando realmente não tiver mais disposição.

Porém, a maioria das pessoas não gosta do que faz. Assim, a aposentadoria surge como um sonho de libertação. O sujeito para de trabalhar e suspira: “Agora vou fazer o que gosto!”. Todo o seu tempo pretérito, o que ele fez foi correr atrás do dinheiro.

É esse homem, para quem o trabalho é um fardo, quem mais vai sofrer com a reforma da Previdência. É esse quem hoje grita e protesta. E, dadas as circunstâncias, com certa razão.

Mas haverá solução? A oposição ao governo diz que a reforma da Previdência não é necessária. Trata-se de uma falácia política. Dilma afirmava que a reforma era necessária e Lula brigou com os petistas para fazer uma reforma que sabia ser apenas paliativa, lá adiante teria de fazer outra. É evidente que a reforma haverá de ser feita.

Mas será que tem de ser ESTA reforma? Talvez não. Talvez alguns pontos importantes possam ser negociados. O mais importante deles, o fundamental: o tempo. O candidato à aposentadoria precisa terrivelmente de um pouco mais de tempo, para usá-lo quando ainda tiver disposição. A grande questão é que, como ensinou Franklin quase 300 anos atrás, tempo não é só tempo: é dinheiro. E dinheiro é algo pelo que se morre, se mata e, sobretudo, se rouba no Brasil.

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